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Memória sobre a ilha Terceira/II/I

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Parte II
Flora da ilha Terceira
Preâmbulo


Os primeiros trabalhos, de que há conhecimento, sobre a flora da Terceira, remontam ao ano de 1838, quando vieram aos Açores Heinrich Guthnick[1] e Carl Hochstetter[2], os quais depois de terem empregado três meses em excursões botânicas em todas as ilhas do arquipélago açoriano, com exceção de Santa Maria, publicavam em 1843 a sua Übersicht der Flora der azorischen Inseln.[3]

No ano seguinte, 1844, Mauritius Seubert[4] visitou os Açores, e auxiliando-se dos trabalhos do seu antecessor Carl Hochstetter catalogou 400 plantas, cuja descrição se acha no livro por ele publicado com o título de Flora Azorica.[5]

Mais tarde Hewett C. Watson,[6] que fazia parte da comitiva do capitão Alexander Vidal[7] da marinha de guerra britânica, publicou o resultado das suas indagações botânicas nos Açores, incluindo nelas as executadas na ilha Terceira, e elevou a 471 o número de espécies que encontrou no arquipélago.

Em 1857 vieram aos Açores os naturalistas franceses Arthur Morelet[8] e Henri Drouët, e este último publicou em 1866 o seu Catalogue de la Flore des iles Açores,[9] e elevou a 727 as espécies por ele encontradas e por seus companheiros Arthur Morelet e Georg Hartung, os quais posto que tinham de ocupar-se de outros ramos da história natural dos Açores (Morelet na conquiologia e Hartung na geologia), contudo também auxiliaram Drouët, coligindo plantas.

No ano de 1865 veio aos Açores o naturalista inglês Frederick C. Godman[10] que, percorrendo todas as ilhas e compulsando o que haviam publicado Watson, Drouet e Seubert, publicou em 1870 um precioso livro intitulado Natural History of the Azores,[11] que não só encerra a lista das plantas dos Açores, mas também se ocupa da sua história zoológica. Este naturalista contou 478 espécies de plantas nos Açores.

Finalmente em 1896 esteve entre nós o sr. William Trelease,[12] diretor do Jardim Botânico do Missouri (E. U. da América do Norte), o qual veio aos Açores para o fim de coligir plantas e formar um catálogo o mais completo possível dos vegetais que até esta data tinham sido descritos pelos naturalistas seus antecessores, mas que tinham também omitido a descrição de muitas espécies que o sr. Trelease completou, especialmente a descrição dos vegetais inferiores.

Este ilustrado professor e naturalista visitou e explorou a Terceira, e eu tive o prazer de com ele travar relações e de lhe franquear o meu pequeno herbário, do qual cedi exemplares que estavam em duplicado, e desta sorte coube-me a satisfação de poder auxiliar este distinto botânico nos seus trabalhos de exploração científica.

Em setembro de 1897 publicou o sr. Trelease o resultado dos seus estudos sobre a flora dos Açores em um livro cujo título é Botanical Observations on the Azores,[13] e neste apreciado livro teve o seu autor a gentileza de colocar o meu humilde e desconhecido nome ao lado de plantas, que ele encontrou no meu herbário.

Desde 1896 não apareceu mais naturalista algum nos Açores, e os que vierem de futuro por certo que já encontrarão poderosos auxílios nos livros que mencionei.

Ao catálogo que hoje apresento em público acrescentei a descrição de algumas espécies que, por sem dúvida, escaparam ao conhecimento dos botânicos já citados; e e de crer que talvez ainda existam algumas outras cuja menção será feita por outros mais competentes que eu sou.

Julguei também oportuno adicionar a este catálogo uma lista dos vegetais que são empregados nas artes e indústrias, e bem assim a dos que são utilizados para a produção de frutos, e finalmente a indicação muito resumida das plantas de ornamentação.

Em seguida ao nome de cada planta eu inseri os nomes dos botânicos que, ou as classificaram ou as descreveram nos seus catálogos, onde podem estes mesmos nomes das plantas ser procurados e verificada a sue enumeração.

Dr. Sampaio.

Notas do editor

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  1. Heinrich Josef Guthnick (1800 — 1880), farmacêutico e botânico suíço, membro de um grupo dedicado às excursões de estudo da história natural (cf. Arno Wörz, Der Esslinger Botanische Reiseverein 1825-1845: Eine Aktiengesellschaft zur Durchführung naturkundlicher Sammelreisen. Logos Verlag Berlin GmbH, 2016, pp. 134-135).
  2. Carl Christian Friedrich Hochstetter (1818 – 1880), farmacêutico e industrial químico, especialista em mineralogia, filho do botânico Christian Ferdinand Hochstetter, membro da Esslinger Botanische Reiseverein, que com o botânico Heinrich Guthnik e o mineralogista Rudolf Gygax, visitou os Açores em 1838 (24 de abril a princípios de agosto; nos dias 17-18 de julho escalaram o Pico do Pico).
  3. “Übersicht der Flora der azorischen Inseln”. Von Dr. Moritz Seubert und C. Hochstetter. In W. F. Erichson (editor), Archiv für Naturgeschichte, 9-jahrgang, 1843, pp. 1-267.
  4. Moritz August Seubert (1818 – 1878), professor de zoologia e botânica na Polytechnische Schule (Escola Politécnica) de Karlsruhe.
  5. Flora Azorica quam ex collectionibus schedisque Hochstetteri patris et filii elaboravit et tabulis XV propria manu aeri incisis illustravit Mauritius Seubert. Bonnae : ap. Adolph. Marcum 1844 (cf. Gelehrte Anzeigen, vol. 19, n.º 243 (5 Dezember 1844) pp. 905-912. Akademie der Wissenschaften, München, 1844).
  6. Hewett Cottrell Watson (1804 – 1881), botânico britânico, pioneiro de biogeografia e da ecologia vegetal. É o autor da parte botânica da Natural History of the Azores de Frederick C. Godman.
  7. Alexander Thomas Emeric Vidal (1792 – 1863), oficial da Marinha Real Britânica, notável pelos seus trabalhos hidrográficos. É autor do primeiro levantamento hidrográfico moderno dos mares dos Açores.
  8. Pierre Marie Arthur Morelet (1809 — 1892), naturalista francês, especializado em malacologia, conhecido pela qualidade artística das ilustrações científicas que executou.
  9. Catalogue de la flore des iles Açores, précédé de l'itinéraire d'un voyage dans cet archipel. Paris,Baillière,1866.
  10. Frederick Du Cane Godman (1834 — 1919), membro da Sociedade Zoológica de Londres e especialista em insectos, foi um dos naturalistas e coleccionadores mais activos do último quartel do século XIX. De saber ecléctico, interessou-se sobremaneira pela fauna e flora da América Central, tendo realizado diversas viagens de exploração àquela região. Visitou os Açores em 1865, publicando uma das mais importantes obras de sempre sobre a história natural do arquipélago.
  11. Frederick Du Cane Godman, Natural history of the Azores, or Western Islands. London : John Van Voorst, Paternoster Row, 1870.
  12. William Trelease (1857 – 1945), botânico, entomologista e explorador, foi diretor do Missouri Botanical Garden.
  13. William Trelease, Botanical observations on the Azores (from the Eighth Annual Report of the Missouri Botanical Garden). St. Louis, MO : Board of Trustees of the Missouri Botanical Garden, 1897.