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Memorias de um Negro/16

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CAPITULO XVI

VIAGEM Á EUROPA


Em 1893 casei-me com miss Margaret James Murray, originaria do Mississipi, diplomada pela universidade Fisk, de Nashville, no Tennessee. Minha mulher dedica-se ao duro trabalho da escola, organiza reuniões de mães de familia e occupa-se com uma sociedade de negros, situada a legua e meia de Tuskegee. Essas obras têm duplo fim: soccorrem os pobres e ministram licções praticas aos nossos alumnos, ensinam-lhes a maneira de proceder no futuro, quando se tornarem educadores. Alem disso a sra. Washington fundou um club feminino que, duas vezes por mez, reune as mulheres do instituto e da vizinhança. E preside a Federação dos clubs das mulheres negras e a Commissão executiva da federação nacional dos clubs de mulheres negras.

Minha filha Porcia é costureira e tem disposições para a musica. Concluiu os seus estudos em Tuskegee e já começou a ensinar.

Baker Taliaferro, meu filho mais velho, trabalha no tijolo. Desde muito novo revelou-se um operario habil e tem amor ao seu officio. Deseja ser architecto e oleiro. Uma das cartas que me deram maior prazer foi a que recebi de Baker o anno passado. Sahi de Tuskegee, em gozo de ferias, e recommendei-lhe que empregasse parte do dia na fabricação dos tijolos. Algum tempo depois elle me escreveu:

“Caro papae:

Antes de viajar, tu me disseste que trabalhasse algumas horas no officio. Mas, como gosto delle, trabalho o dia todo. Preciso ganhar muito dinheiro. Quando for para outro collegio, terei com que pagar as taxas.

Baker”.

Ernesto Davidson Washington diz que será medico. Frequenta as aulas, como os outros, vai á officina, como os outros, entretem-se remexendo o laboratorio da casa e apropriou-se de varios pequenos deveres da profissão.

O que me afflige nesta vida errante é ficar meio anno longe dos meus. Invejo o homem que se recolhe diariamente, tem serões regulares junto da familia. Com certeza essa criatura feliz ignora o valor de semelhante prazer. É um allivio fugir da multidão e dos cumprimentos, não viajar, entrar em casa.

Tambem me dá muita alegria o serviço religioso na capella, ás oito e meia, o ultimo exercicio a que professores e alumnos se entregam antes de marchar para a cama. Temos ahi onze a doze centos de jovens graves, recolhidos, e pensamos que é uma felicidade ajudal-os viver utilmente e dignamente.

Na primavera de 1899 fizeram-me uma surpresa, das maiores que já experimentei. Algumas senhoras organizaram, em beneficio de Tuskegee, uma reunião publica em Boston, no theatro da rua Hollis. A gente boa da cidade lá se achava, brancos e negros. A sessão foi presidida pelo bispo Lawrence. Fiz um discurso, o sr. Paul L. Dunbar recitou poemas e o dr. W. E. B. du Bois leu uma das suas memorias.

Acharam-me com ar fatigado e murcho. Acabada a festa, uma das senhoras que haviam tido a iniciativa della perguntou-me, como por acaso, se eu tinha estado na Europa. Respondi que não, ella insistiu, quiz saber se eu nunca havia pensado em visitar a Europa. Não, senhora, faltavam-me recursos para un desejo dessa natureza, confessei. E foi tudo.

Tinha esquecido inteiramente essa conversa quando, passados alguns dias, me communicaram que amigos residentes em Boston, entre elles o sr. Francis J. Garrison, haviam reunido a quantia necessaria para uma viagem de duas pessoas á Europa. Accrescentaram que eu e minha mulher não tinhamos o direito de recusar o offerecimento. Essa viagem me fôra suggerida pelo sr. Garrison um anno antes, e, por consideral-a absurda, eu não lhe dera nenhuma attenção. Mas o sr. Garrison agarrara a idéa, juntara os seus esforços aos das senhoras mencionadas — e quando voltou a falar-me do assumpto, estava tudo previsto, o itinerario traçado e duas passagens compradas.

Essas coisas se combinaram com tanta presteza que me assombrei. Vivera dezoito annos martelando em Tuskegee, e parecia-me indispensavel continuar assim, martelando, até a consummação dos meus dias. A escola dependia de mim, havia as despesas quotidianas, foi o que eu disse aos meus excellentes amigos de Boston. E, agradecendo a generosidade delles, conclui que a viagem era impossivel. Objectaram-me que o sr. Henry L. Higginson e outros cavalheiros, que não cito porque elles se zangariam commigo, tratavam de obter o dinheiro necessario á manutenção da escola durante a minha ausencia. Ahi as desculpas se tornavam impertinentes: baixei a cabeça.

Aquillo me atordoava. Impossivel acostumar-me á idéa de que o projecto se realizaria. Via-me escravo, nas trevas da ignorancia e da pobreza, vivendo numa cabana miseravel, padecendo fome, tremendo de frio. Era grande, quasi rapaz, quando me servi pela primeira vez em mesa. O bem-estar e o luxo sempre me haviam parecido privilegio dos brancos. E de repente a Europa. O antigo escravo da Virginia ia visitar Londres e Paris. Extraordinario.

Dois pensamentos me affligiam. Ao espalhar-se o rumor da viagem, talvez fossem por ahi pensar que estavamos ficando arrogantes e vaidosos. Muitas vezes ouvi dizer que as pessoas da minha raça, elevando-se um pouco, perdiam a cabeça, enchiam-se de bazofia e macaqueavam os ricos. Receava que dissessem o mesmo de mim. Por outro lado mordiam-me remosos. Tinha deveres em quantidade, e parecia-me quasi uma deserção afastar-me, deixando os outros no serviço. Desde menino havia trabalhado, e era impossivel habituar-me á idéa de passar dois ou tres mezes ocioso.

Minha mulher concordava commigo. Resignou-se por achar que eu devia tomar um repouso necessario, embora inopportuno, pois naquelle momento se discutiam questões consideraveis relativas aos negros. Emfim acceitámos a offerta dos nossos amigos de Boston, que logo quizeram saber o dia da partida. Marcou-se 10 de Maio. O sr. Garrison encarregou-se dos preparativos. Arranjou-nos cartas de recommendação para a França e para a Inglaterra, previu tudo, regulou tudo afim de proporcionar-nos conforto lá fóra.

Sahimos de Tuskegee e tomámos o trem de Nova York a 9 de Maio. Porcia, que estudava em South Framingham, no Massachusetts, veio assistir ao nosso embarque. O sr. Scott, meu secretario, acompanhou-me e até a ultima hora discuti com elle negocios do estabelecimento.

Pouco antes de nos despedirmos recebi de duas senhoras generosas a quantia necessaria á construcção dum edificio onde poderiamos installar os ateliers das raparigas, em Tuskegee.

Embarcámos no Friesland, da Red Star Line, navio soberbo. Fomos para bordo antes do meio-dia. Era a primeira vez que me via num transatlantico e experimentava uma extranha sensação, mistura de alegria e terror. O capitão e os officiaes, informados da nossa presença, receberam-nos amavelmente. Conheciamos alguns passageiros, entre os quaes o senador Sewel, de Nova Jersey, e Eduardo Marshall, jornalista.

Lembrando-me das narrações de pretos que não tinham tido bom acolhimento em navios americanos, temi alguma affronta, que não se realizou: a tripulação, de alto a baixo, e todos os viajantes, sem exceptuar os sulistas, dispensaram-nos gentilezas.

Quando o Friesland se afastou do caes, senti um grande allivio: foi como se me cahisse dos hombros um enorme fardo, o peso das angustias, das preoccupações, das responsabilidades. Respirei livremente depois de tantos annos de canceira. Era afinal a tranquillidade que me chegava, uma espeeie de sonho. Logo no segundo dia assaltou-me um violento desejo de dormir: recolhi-me ao excellente camarote que nos tinham reservado e mergulhei num profundo somno de quinze horas. Achava-me exgottado. No trajecto e um mez depois delle continuei esse regimen. Quinze horas de somno por dia. Era uma novidade levantar-me isento de obrigações. Ausencia de trens, horarios, entrevistas e discursos, mudança completa na vida dum sujeito que ás vezes se deitava em tres camas numa noite.

Domingo o capitão me pediu que presidisse a cerimonia religiosa. Como não sou ministro, desculpei-me. Por insistencia dos passageiros, fiz uma allocução na sala de jantar.

Não enjoei. E depois duma travessia falta de acontecimentos, desembarcámos, com tempo esplendido, na Belgica, na velha cidade de Antuerpia.

No dia seguinte assistimos a uma das festas curiosas que existem nessa terra. Das janellas do nosso quarto, abertas para uma vasta praça, viamos, na belleza do sol claro, mulheres conduzindo carrinhos cheios de latas de leite, puxados por grandes cães, a multidão invadindo a cathedral, camponezes carregados de flores.

Ficámos alguns dias em Antuerpia, entrámos depois na Hollanda, em companhia de viajantes americanos, entre os quaes Eduardo Marshall e varios artistas que haviam feito comnosco a travessia do Atlantico. Foi uma viagem curta e encantadora, pelos canaes, num velho barco, á moda antiga. Percorremos o campo, estudámos os costumes regionaes, chegámos a Rotterdam, á Haya, onde se reunia a conferencia da paz. Fomos ahi muito bem recebidos pelos representantes americanos.

Impressionaram-me na Hollanda a agricultura e os bellos rebanhos de gado de Holstein. Aproveita-se ali qualquer pedaço de terra, parece que não se perde um centimetro quadrado, coisa de que nem fazemos idéa na America. Centenas de vaccas de Holstein pastavam no prado intensamente verde.

Voltámos, atravessamos a Belgica rapidamente, parámos em Bruxellas, visitámos o campo de batalha de Waterloo e cahimos em Paris, onde o sr. Theodoro Stanton, filho da sra. Elisabeth Cady Stanton, nos tinha preparado hospedagem.

Logo que chegámos, convidaram-nos para um banquete no club universitario. Ahi encontrámos o ex-presidente Benjamin Harrison, o arcebispo Ireland, o embaixador americano, general H. Porter, que dedicou um discurso á minha pessoa e á influencia que poderia ter na questão das raças o instituto de Tuskegee. A minha resposta causou impressão favoravel e determinou outros convites, que recusei porque o meu intuito era descançar. Abri uma excepção para a capella americana, onde tive como ouvintes o general Harrison, o general Porter e outros cavalheiros influentes.

Alguns dias depois comparecemos a uma recepção na embaixada americana e travámos conhecimento com dois magistrados, os juizes Fuller e Harlan, do supremo tribunal dos Estados Unidos. Emquanto estivemos na França, o embaixador americano e sua senhora tiveram para nós toda a sorte de gentilezas.

Em Paris conhecemos o pintor negro Henry O. Tanner e vimos com prazer que elle desfructava reputação invejavel nos meios artisticos e era respeitado em todas as classes da sociedade. Transmittindo a alguns amigos a intenção de ir ver no museu do Luxemburgo a tela dum preto americano, percebemos que nos ouviam com surpresa e duvida. Só admittiram a existencia do pintor depois que foram examinar o quadro.

O exemplo do sr. Tanner fortaleceu-me a convicção que não cesso de communicar aos meus alumnos. O negro subirá quando se tornar indispensavel, quando fizer melhor que os outros as coisas que toda a gente faz. Tive a inspiração disto no dia em que varri a sala do collegio, em Hampton. Senti que o meu futuro dependia da execução da tarefa e resolvi desobrigar-me de fórma que não achassem nella um defeito. No museu do Luxemburgo ninguem pergunta se o sr. Tanner é negro, allemão ou francez. Produziu uma coisa que o publico necessita, uma obra de arte, e é quanto basta. O facto de elle ter uma côr differente das côres ordinarias não interessa. A rapariga negra que sabe cozinhar, lavar, coser ou escrever e o rapaz negro habil no tratamento dos cavallos, na fabricação da manteiga, na cultura das batatas, na construcção de casas ou na pratica da medicina serão julgados e acceitos em conformidade com os seus meritos. Afinal o mundo exigirá perfeição em todas as coisas, e os que trabalharem bem terão preferencia. O essencial é a producção, e nisto a raça, a religião e os antecedentes historicos não importam. É impossivel que um homem concorra para o bem-estar do proximo e não tenha recompensa adequada.

Surprehenderam-me o amor ao prazer e a excitabilidade que parecem caracterizar o povo francez, duas qualidades muito mais vivas nelle que nos homens da minha raça. Quanto á moral, não acho que os francezes sejam superiores á gente de côr. As exigencias da vida e a grande concorrencia industrial fizeram que elles se tornassem habeis e economicos. Mas, com o tempo, conseguiremos isso. Relativamente á veracidade e ao sentimento de honra, o francez medio não vale mais que o negro americano. E o negro tem mais doçura e mais piedade que elle. Deixando a França, o optimismo com que vejo o futuro da raça negra havia crescido.

Sahimos de Paris, chegámos a Londres em Julho, no meio da season. O parlamento estava reunido e havia muitas festas. Levavamos cartas de recommendação e outras haviam sido mandadas para a Inglaterra, annunciando a nossa chegada. Recebemos convites para varias solennidades, mas apenas assistimos a algumas dellas.

O reverendo dr. Brooke Herford e senhora, meus conhecidos de Boston, arranjaram com o sr. Joseph Choate, embaixador dos Estados Unidos, uma reunião em Essex Hall. Compareceram muitas pessoas notaveis e membros do parlamento, entre outros o sr. James Bryce. As palavras do embaixador e um resumo do meu discurso foram publicados nos jornaes da America e da Inglaterra. Em casa do dr. Herford encontrámos a melhor sociedade ingleza. E, emquanto estivemos em Londres, o embaixador Choate nos cobriu de attenções. Foi na embaixada que travei conhecimento com Mark Twain.

Varias vezes fomos hospedes da sra. T. Fisher Unwin, filha do estadista Richard Cobden. O sr. e a sra. Unwin tudo fizeram para ser-nos agradaveis. Mais tarde passámos uma semana em casa da filha de John Bright, a sra. Clark. No anno seguinte o casal Clark e sua filha estiveram nos Estados Unidos e vieram visitar-nos em Tuskegee.

Em Birmingham fomos recebidos pelo sr. Joseph Sturge, filho dum ardente abolicionista que foi amigo de Whittier e Garrison. Ahi tive o prazer de avistar-me com pessoas que haviam conhecido William Lloyd Garrison e Frederico Douglas. Os libertadores inglezes que vimos não poupavam elogios a esses dois americanos. Eu não imaginava o auxilio que os inglezes nos haviam prestado na libertação.

Minha mulher e eu falámos no club liberal das mulheres, em Bristol. Tambem me convidaram para principal orador na sessão de fim de anno do Collegio Real dos Cegos, cerimonia que foi presidida pelo duque de Westminster, o homem mais rico da Inglaterra. Elle, a duqueza e uma filha felicitaram-me calorosamente.

Graças á gentileza de lady Aberdeen, assistimos ao congresso internacional das mulheres e vimos a rainha Victoria no castello de Windsor, onde tivemos a honra de tomar chá como hospedes officiaes. Pertenciamos a uma conmissão de que fazia parte miss Susan B. Anthony.

Na camara dos communs, aonde fomos diversas vezes, encontrei sir Henry M. Stanley e falei com elle a respeito da Africa, das vantagens que o negro americano poderia ter mudando-se para lá. Essas conversas convenceram-me de que a Africa nos seria desastrosa.

Os inglezes sabem viver bein. A familia é uma perfeição, tudo se faz com admiravel regularidade. O respeito dos criados aos amos impressionou-me, pois na America não se admittem amos e a palavra que os designa nos fere os ouvidos. O criado inglez não pensa em mudar de condição e aperfeiçoa-se na arte de servir. O criado americano é provisorio, quer ser patrão e mandar. Qual dos dois tem razão? Deixo a resposta para outro.

Ha na Inglaterra, em todas as classes, immenso respeito á ordem e á lei. Gasta-se ahi muito tempo nas refeições e no resto. Mas pergunto a mim mesmo se isto não vale mais que a agitação americana.

Conheci de perto a nobreza, na verdade estimavel. Ignorava que ella fosse venerada pelas massas, não suppunha que dedicasse tempo, dinheiro e enthusiasmo a obras de philanthropia. Imaginava esbanjamentos.

As platéas são de gelo. O inglez, desesperadamente grave, leva em geral tudo a serio. Aconteceu-me contar historias que teriam provocado um riso doido na minha terra — e olhavam-me tranquillamente, sem bater as pestanas.

Quando um inglez nos abre o coração e se torna amigo nosso, é um amigo sincero.

Fomos convidados, minha mulher e eu, pelo duque de Sutherland para uma soirée em Stafford House, a vivenda mais sumptuosa de Londres. A duqueza de Sutherland, a mulher mais bella da Inglaterra, desviou-se dos cuidados que lhe davam trezentos visitantes e veio falar comnosco duas vezes, exigiu que, de volta á America, lhe mandassemos noticias do instituto. Não esqueci o pedido, e no mesnio anno, pelo Natal, recebemos della uma photographia com dedicatoria. Continuámos a correspondencia, e temos actualmente na duqueza de Sutherland uma das nossas melhores amigas.

Após tres mezes de permanencia na Europa, embarcamos em Southampton para o regresso, no S. Luis. Havia a bordo uma esplendida bibliotheca offerecida pelos cidadãos de S. Luis, no Missouri. Entre os livros achei uma biographia de Frederico Douglas, obra curiosa, sobretudo na parte referente á viagem que o grande negro fez á Inglaterra. Não lhe permittiram entrar no salão: durante a travessia Douglas se conservou no convez.

Mal terminei essa leitura, varias senhoras e cavalheiros me vieram pedir um discurso para o concerto que tencionavam realizar no dia seguinte. Apesar desses exemplos, continuarão a dizer que a antipathia entre as raças não decresce na America.

O concerto foi presidido pelo sr. Benjamin B. Odell Junior, actual governador do Estado de Nova York. Tive nessa tarde um auditorio amavel em demasia, quasi todo constituido por sulistas. Fizeram para a escola de Tuskegee uma collecta de que resultaram diversas bolsas de estudo.

Em Paris eu havia recebido a seguinte carta de Charleston, a cidade onde passei parte da minha infancia:

“Charleston, 16 de Maio de 1899.

Caro senhor:

Numerosos cidadãos, dos mais notaveis da Virginia Occidental, todos admiradores seus, esperam que, ao voltar da Europa, o senhor os honre com a sua presença e lhes traga a sua palavra eloquente. E’ com muita alegria que exprimo esse desejo e lhe rogo, em nome dessas pessoas, uma visita, afim de que possamos render-lhe as homenagens merecidas.

Muito sinceramente,

Pelo Conselho municipal de Charleston,

W. Herman Smith”.

Juntamente com esse convite, recebi este:

“Professor Booker Washington, Paris.


Senhor:

Nós, cidadãos da Virginia Occidental, desejamos communicar-lhe que nos sentimos orgulhosos com a sua bella carreira. Ser-nos-ia agradavel poder manifestar-lhe a nossa admiração e o nosso interesse de maneira mais positiva.

E’ para nós motivo de desgosto não termos tido ha algum tempo, durante a visita que o sr. fez á cidade que o viu crescer, occasião de ouvil-o e provar-lhe por dadivas efficazes que applaudimos a obra de Tuskegee.

Pedimos-lhe, pois, que nos conceda a honra de, ao regressar da Europa, acceitar a hospitalidade que Charleston lhe offerece e expor-nos os seus trabalhos. Teremos vivo prazer em levar-lhe a nossa contribuição e escutar a sua palavra eloquente.

Esperando que, numa resposta breve, nos marque o dia da sua chegada, aqui lhe apresentamos, respeitosamente, cordiaes saudações.

The Charleston Daily Gazette; The Daily Mail Tribune; G. W. Atkinson, governador; E. L. Boggs, secretario do governador; W. M. O. Dawson, secretario de Estado; L. M. La Folette, thesoureiro; J. R. Trotter, director das escolas; E. W. Wilson, ex-governador; John Q. Dickinson, presidente do Banco de Kanawha Valley; L. Prichard, presidente do Banco Nacional de Charleston”.

Esse convite, assignado por cidadãos importantes, brancos e negros, da cidade onde passei a infancia, pobre, ignorante, desconhecido, encheu-me de alegria e enterneceu-me. Realmente nada havia feito para merecer tanta honra.

Entendi-me com os signatarios da segunda carta, combinei o dia da viagem e fui recebido em Charleston por uma commissão, meio branca e meio negra, chefiada pelo ex-governador V. A. MacCorkle. Offereceram o theatro da Opera á commissão directora da solennidade, e á noite a platéa se encheu de pretos e brancos. Entre estes vi muitos que me haviam pago salario quando eu era criança.

No dia seguinte o governador Atkinson e senhora deram-me no palacio uma soirée que attrahiu todas as classes da sociedade.

Pouco depois os negros de Atlanta me distinguiram com uma festa que o governador do Estado presidiu. Em seguida chamaram-me a Nova Orleans. Houve então uma chusma de Convites e fui obrigado a recusar muitos.

Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.