Meu Captiveiro entre os Selvagens do Brasil (2ª edição)/Capítulo 46
Eu tinha armado uma cruz de pau ôco e a erguera em frente á minha cabana; ao pé della fazia minhas orações, sempre recommendando aos selvagens que a não arrancassem, pois isso lhes traria desgraça.
Desprezaram, um dia,, minhas palavras. Tendo eu sahido com elles á pesca, uma india arrancou a cruz e levou-a ao marido, que andava polindo um collar de conchas.
Este facto muito me contrariou. Logo em seguida começaram a cahir chuvas prolongadas, e vieram ellas á minha cabana para que eu rogasse ao meu Deus que as fizesse cessar, pois estava passando a epoca das plantações e a chuva os impedia de fazel-as.
Expliquei-lhes que o mal provinha da offensa feita ao meu Deus, com arranacarem a cruz deante da qual eu lhe falava.
Acreditaram na explicação e o filho de Iapirú ajudou-me a erguer outro madeiro.
Era ali pela uma hora da tarde, e succedeu que logo depois o tempo concertou. Os selvagens

admiraram-se grandemente, confirmando-se na crença de que meu Deus fazia tudo quanto eu desejava.

Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.

