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Meu Captiveiro entre os Selvagens do Brasil (2ª edição)/Capítulo 6

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CAPITULO VI


De como parti de Sevilha para
a America


Em 1549, no quarto dia depois da paschoa, fizemo-nos de vela para São Lucar. O vento mostrou-se contrario, e porisso tivemos de nos abrigar em Lisboa até que se tornou de feição e nos permittiu velejar para as Canarias, onde deitamos ferro na ilha da Palma. Alli nossas naus tomaram vinho para a viagem e combinaram entre si encontrarem-se em qualquer terra ao gráo 28 a Sul do equinoxio, caso o mar viesse a separal-as.

De Palma fomos a Cabo-Verde, isto é, cabeça verde, terra de mouros.

Quasi naufragamos ahi; mas proseguimos, em nossa rota e, levados por ventos contrarios, tocámos algumas vezes na costa da Guiné, tambem habitada por negros.

Depois alcançamos a ilha de São Thomé, que pertence ao rei de Portugal, terra insalubre, mui rica em assucar e habitada por portuguezes e africanos escravos.

Tomámos agua em São Thomé e continuámos viagem, sendo logo depois dispersas as nossas naus por uma furiosa tempestade. A em que eu vinha ficou só.

Os ventos continuaram contrarios, porque naquelles mares têm elles a particularidade de soprar do sul quando o sol está a norte do equinoxio, e vice-versa; e como é assim por cinco mezes a fio, não pudemos seguir nosso rumo durante cento e vinte dias.

Quando, porém, entrou o mez de setembro, o vento virou e foi possivel retomar a nossa rota para a America.

Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.