O Cemitério dos Vivos/I/X
O meu transplante forçado para outro meio que não o meu. A necessidade de convivência com os de meu espírito e educação. Estranheza. A minha ojeriza por aqueles meus companheiros que se animam a falar de coisas de letras e etc. O J. P., que se animava a discutir comigo Zola e falar sobre edições, datas, etc. Entretanto, eu gostava dele. Ri-me mais que nunca quando, percebendo tudo isto, lembrei-me que me supunha um homem do povo e capaz de lidar e viver com o povo. Concluí que nem com ele, nem com ninguém. Lembrança da mulher, a única que podia ter feito viver comigo e eu não compreendera.
Cigarro. Insistência em pedir. Negar. Arrependimento. O caso do velho. Remorso: dei o cigarro, muito depois de tê-lo negado.
Um pequeno meteu-se no porão, armou-se de tijolos e ameaçou não sair de lá. Os guardas entraram lá com escudos de travesseiros.
Um maluco vendo-me passar com um livro debaixo do braço, quando ia para o refeitório, disse: — Isto aqui está virando colégio.
A Noite, de 15-1-20, sobre desapropriações.
Dia 16-1-20.
Suicidou-se no pavilhão um doente. O dia está lindo. Se voltar terceira vez aqui, farei o mesmo. Queira Deus que seja um dia bonito como o de hoje.
Os sábios que seguiram Napoleão na expedição do Egito, montavam em jumentos. Quando os mamelucos ameaçavam um ataque, ao formar um quadrado, os soldados gritavam: "No centro do quadrado, os asnos" — "Au centre du carré, les ânes" — porque estavam montados em burricos.
What is gipsy?
O engenheiro diz que o Pires de Albuquerque foi promovido devido a ele, tendo-lhe dado até dinheiro.
Revolta das mulheres por causa da comida. Loucas e enfermeiras. Diferença entre a reclamação delas e a dos homens, que foi anteriormente.
Conversa de loucos. Dificuldade de reproduzi-la e o delírio também.
Rabelais XIII.
Abelardo: Viveu infeliz e morreu humilhado, mas teve a glória e foi amado.
O B., homem de mais de cinqüenta anos, dizia ter oito ou nove anos e tomava a bênção a outro doente (V. O.).
Há um doente, o tal dos berloques, que toca piano, é o que toca melhor; ele toca coisas do meu tempo de rapazola, quando eu dançava. Observo o seu modo de tocar. Embrulho. O Hino Nacional. Nunca acaba.
C. B., jogando xadrez, vai muito bem e de repente vem-lhe o delírio e complica tudo.
Comparar com o bilhar. Por quê?
Quem toca é o tal bacharel que se condenou à mudez. E..., M..., o velho que dizem matou a mãe, quase mudos. Observar as reações da loucura sobre a articulação da palavra; alguns, trôpegos de língua; alguns balbuciam, e outros, quase mudos.
B., quase preto, o terror da enfermaria. A briga dele com o Gato, o Caranguejo. Falar desse tipo curioso de maníaco.
Eu vi o P. esfregando o assoalho com a vassoura pesada.
A., companheiro de dormitório; tem a mania de trazer a cabeça molhada e os cabelos presos por um lenço fino. Uma noite, despertou gritando: Estão me ateando fogo na cabeça! Dorme com uma venda nos olhos e tem ao lado um verdadeiro guarda-comidas. Mania literária.
Um velho português que tem a vaga semelhança com Francisco José, imperador da Áustria, se crê por isso imperador. Seção Pinel.
Haverá contágio na loucura? Creio que sim. Ambiência do hospital. A imitação como própria à natureza da nossa inteligência. Notar P. imita dois loucos: C. B. (tenente) que dá para bater portas e cadeiras, dá murros na mesa, etc., e Pereira, que imita dar traques. Este é copiado por diversos. As falas com que acompanham os gestos com a boca não se podem repetir: são porcas demais.
A princípio ninguém me procura. Da outra vez, fui muito. Sou muito estimado na Rua do Ouvidor; mas quem não o é aí?
O F. P. batuca no piano coisas tão estúpidas como a sua loucura. Não sei como o povo julga que a loucura é sintoma de inteligência e de muito estudo. No hospício, não se vê tal coisa.
Um louco perguntou-me se Lisboa ficava em Minas Gerais e V. O., aliás doutor, não sabia onde ficava Blumenau.
Diz F. — está há vinte e seis anos, tendo entrado com vinte e oito — que as mulheres temem refeitório devido à revolta do João Cândido.
Há três doentes que mataram ou tentaram matar as mulheres, dos quais dois são oficiais do Exército, sendo que um nada tem. É o engenheiro, o tenente e o Tenente P. M.
A força da loucura do V. O. está nas suas pretensões intelectuais. Ele me disse que tem os instrumentos de engenharia mais aperfeiçoados, e um teodolito, caríssimo, [ilegível], e uma bússola que faz levantamentos automáticos e os registra numa espécie de fita telegráfica, indo no bolso. Instrumentos de cirurgia, etc. A sua casa é uma lindeza de coisas pequeninas, até a mesa de operações é de tamanho de uma boneca. Quando mora em sobrados, tem as flores em potes. Entre elas, catléias, catléias em pote!
Dia 20-1 -20.
Hoje, o D. E., sobrinho de um funcionário daqui, embriagou-se e, no furor alcoólico, conseguiu subir até o telhado de uma dependência do hospício e de lá, prorrompendo nos maiores impropérios, pôs-se nu em pêlo, enquanto bebia aguardente. Na hora do café, lá estavam os caibras ou coisa parecida. Alguns têm um ar bom e modesto; mas outros têm a morgue de estudantes. Eu já tive.
Houve festa na capela e ao sair do café (à uma hora) cruzei-me com os padres. Que lorpas! E a constituição! Padres como esses não fariam mal, se não fossem eles a guarda-avançada do estado-maior jesuítico que nos pretende oprimir, favorecendo os ricos e pavoneando os seus preconceitos.
D. E. Veio o corpo de bombeiros, com uma escada, para tirá-lo de cima do telhado. Ele partiu as telhas e pôs-se a atirá-las em cima do povo que assistia o espetáculo do lado da rua. Não parece intimidado. Está seminu e, apesar de saber perfeitamente que está tomado de loucura alcoólica, de pé, na cumeeira do pavilhão, destinado à rouparia, como que vi, naquele desgraçado, a imagem da revolta.
Esse acontecimento causa-me apreensões e terror. A natureza deles. Espelho.
Guardas e bombeiros conseguiram apanhar o homem e amarrá-lo. Ele estava acocorado na borda da emalha, acocorado da forma daqueles animais fantásticos que se vêem nas cimalhas das igrejas góticas. Suspendeu o trânsito, durante mais de uma hora. O edifício ficava no canto da Rua General Severiano.
O F. F. tinha no quarto também um estudo sobre moléstias crônicas, em francês.
O barbeiro.
Dizia Catão, segundo Plutarco, que os sábios tiram mais ensinamentos dos loucos que estes deles, porque os sábios evitam os erros nos quais caem os loucos, enquanto estes últimos não imitam os bons exemplos daqueles. Plutarco, página 178. 2v.
Ouvindo Catão, que pronunciava poucas palavras para o intérprete traduzi-las em muitas, aos grupos, observaram estes que as palavras do romano saíam do coração e as dos gregos da ponta da língua (bout des lévres).
22-1-20.
Vi hoje entrar um navio à vela, sem auxílio de rebocador, com um terço do velame. Outra impressão do vapor. Não denunciava esforço e parecia docemente ir a navegar sereno.
O. N., o tal de engenheiro, qualificou de vermelhas as cascas das laranjas, quando as mandou cortar pelo cozinheiro.
V. O. diz comprar um yacht logo que saísse e convidou o comandante e o farmacêutico.
O. V. lavador de peças de roupas dos pátios. Foi aluno da Escola de Minas. O tipo. Condenou-se ao silêncio. Gosto pela leitura. Vive nos vãos das janelas. Uma sesta, com outros que têm a mesma mania.
O alemão grandão, que é meu vizinho no refeitório, por ocasião do café teve um ameaço de ataque epiléptico. Bem estúpido e malcriado. Tratar dos nomes de pavilhões e dependências. Pinel, Esquirol — mulheres — Calmeil. O mais conhecido é o Esquirol porque foi médico do Augusto Comte.
O F. P., a sua mania de amolar todo o dia o médico e seu esforço para impedir que os outros fizessem o mesmo.
Juliano (Tito) César Flamínio.
Vive-se aqui pensando na hora das refeições. Acaba-se do café, logo se anseia pelo almoço; mal se vai deste, cogita-se imediatamente no café com pão; à uma hora, volta-se e, no mesmo instante, se nos apresenta a imagem do jantar às quatro horas. Daí até dormir, são as horas piores de passar.
O V. O. logo se informou de tudo, costumes dos doentes, guardas, mexericos, puxava conversa com todos, doentes e guardas, para saber novidades.
23-1-20.
O S., que parecia idiota completo, a ponto de carregar troços dos outros, para os dar a um meu vizinho de dormitório, desapareceu. Emoção na seção.
O C., sempre com um pano preto. Tipo eclesiástico. Mal encarado. Companheiro de bisca com o P. Uma voz fortemente nasal. Era tipógrafo. Tinha um ríctus constante de mau humor e aborrecimento.
24-1-20.
Hoje, antes das sete horas, F., o que tem mania religiosa, desaveio-se com um belga, que tem mania de milionário e condecorado, e deu-lhe um golpe com uma faca improvisada.
Visita do procurador da República, Olinto Braga. Agitação. Reclamação dos malucos. Inspeção das camas, etc.
Um doente chamou-o de boa-vida.
Furtaram da sala do diretor a bengala do procurador.
O A. disse que o faziam ficar sem juízo e a alma se esvaía.
O servente do laboratório. A sua pretensão. O avental que, no interior dos hospitais, se confunde com a tal esmeralda simbólica. Livros científicos. Meios de cultura. Não sabia francês. Quis que lhe traduzisse páginas. Pede a P., embaraço deste. Caso semelhante, Hospital Central, com F., diferença entre este e aquele. João e Horácio, nos laboratórios de química da Escola Politécnica.
F. diz que a mãe dele tem quatrocentos e vinte anos.
Suas façanhas. Casa-forte. Pai rico. Transferido de seção. Saída da casa-forte. O [...] estava no pátio na outra seção. Negro. Vassoura na mão. Reflexões a respeito.
Vieram visitar-me o Luís Pinto, o Paixão e um amigo deste, 25-1-20, quando fazia um mês que eu aqui estava.
A loucura, a degradação humana — o horror desse espetáculo.
V. O., sua preocupação de ser o primeiro maluco que faz reclamações, e sua pretensão de que fala muito bem e com toda a clareza.
V. O. disse-me que tinha duzentos e tantos mil-réis na palmilha da botina; quando brigou com o Dias, disse que tinha trezentos e tantos. No dia de São Sebastião, foi à capela do hospício pelo correr do dia e à tarde. Voltou de lá dizendo que tinha arrematado prendas. Estávamos no salão, e ele apontou uma menina que passava, como tendo recebido dele o presente de uma flor arrematada. Vendo que a menina não levava flor alguma, emendou que esta estava no chapéu. Na ocasião da proeza do D. E. no telhado, viu a sogra e a mulher. Ele toma-me as palavras e as repete como dele. Quando o B. quebrou o nariz do Gato, eu, narrando-lhe o fato, classifiquei o estado do nariz do Gato como estando à meia nau; imediatamente, contando a outro, ele repetiu a classificação. Vendo os padres no refeitório, achei-os indecentes, antipáticos, com ar de párocos portugueses. Ele, na minha vista, repetiu a opinião. As cartas que lhe dou minuta, que lhe emendo, quando eu o procuro para que ele aluda a esse serviço, mínimo, ele desconversa. Ele é mais ignorante do que eu pensava. É um caso interessante.
Diz Plutarco que, mais do que outra qualquer divindade, Vênus tem horror à violência e à guerra.
Não sabe suportar nem a boa nem a má fortuna.
Há sempre prodígios, no Plutarco, até os ratos roem o ouro do templo de .Júpiter, raios advertissadores, crianças que nascem com cabeça de elefante, eclipses, etc. Todos os seus heróis têm filhos mais belos da cidade.
Houve quem perguntasse: bebemos porque já somos loucos ou ficamos loucos porque bebemos?
A mania do F. P. pelos jornais que ele não lê. A razão. Os livros também. Um livro de matemática em alemão.
Havia no hospício um louco completamente imbecil, cuja mania era tirar os troços da cama de um e levá-los para as de outros. Constantemente fazia isso. Hoje, 26-1-20, desapareceu-me um livro que me fora oferecido, dentre os três que ali tinha. Além do mutismo e ficar ereto nos cantos, a sua mania era esta. Tive-o sempre em antipatia, e o fato, que me aborreceu muito mais, aumentou a minha antipatia por ele. Os furtos aqui, antes dele, eram de onde em onde; agora se sucedem com freqüência. É preciso saber que não tenho dormitório e tudo que tenho — livros, toalha, papel, sabonete, etc. — guardo debaixo do travesseiro ou do colchão.
Na primeira vez que aqui estive, consegui não me intrometer muito na vida do hospício; agora não, sou a isso obrigado, pois todos me procuram e contam-me mexericos e novidades. Esse convívio, obrigado, com indivíduos dos quais não gostamos, é para mim, hoje, insuportável e ainda mais esse furto e as minhas apavorantes dívidas fazem-me desejar imensamente sair daqui. O médico me ofereceu alta, mas não aceitei já, porque só quero sair depois do carnaval. Demais, eu penso que o tal delírio me possa voltar, com o uso da bebida.
Ah! Meu Deus! Que alternativa!
E eu não sei morrer.
Sarará das drogas, o tal chibante, tem o cabelo crespo. Para assentá-lo, usa uma touca e naturalmente vaselina. Dorme com a touca e a usa pela manhã em fora.
V. O., desde dias, vinha brigando com M. Antônio, guarda, o substituto de Dias, na inspetoria da seção. Sabendo aquele que ele tinha uma tesoura em seu poder, tomou-a. Ele se enfureceu e disse que tinha um punhal; deram uma busca mais rigorosa e descobriram que ele furtava roupas particulares de outros doentes, cujas marcas trocava. Além disso, encontraram uma chave da porta dos fundos.
O caso dos jornais atrasados e a sua prisão no dormitório-cárcere.
A sala de bilhar é uma das melhores peças da parte do edifício que ocupamos. Fica no extremo da ala esquerda do hospício. Tem três janelas de sacada para a frente, que olha para o mar; e três outras do lado esquerdo. Já foi melhor mobiliada. Nas paredes há quadrinhos, com recortes de revistas ilustradas, emoldurados modestamente com passe-partout improvisados. Representam castelos nas pontas de montanhas, com torres cilíndricas com os tectos cônicos, das condessinhas do século XIII ou XIV, paisagens de Estaque, no inverno; uns carvalheiros sem folhas ou peupliers tristes. Há um desenho de um senhor gordo deitado num divã rico, ele mesmo em vestuário de baile, que me parece ser de Leandro.
Quem teve esse trabalho de decoração? Há vestígios de que foi pessoa de gosto e educação.
Dia 27-1 -20.
Logo após o café, o V. O. provocou um barulho dos diabos com o F. P., porque este tinha sido transferido para um quarto melhor, com cômoda, etc., e não pagava nada, enquanto ele pagava quinze mil-réis e não tem essas regalias. Trocavam insultos mutuamente os mais vis e baixos. V. O. mostrou todo o seu fundo de soberba, de presunção, de vaidade e mesquinharia. Entretanto, ele não paga.
Tem-se na conta do doente mais rico, mais importante, o que mete medo aos guardas, aos médicos, ao pessoal superior.
A sua loucura veio-lhe da vaidade doentia.
O T., o tal que matou o rival em amor, diz que viveu doze anos num ovo.
V. O. tem o riso algo parecido com o J. B. e algumas vezes sublinha as frases com contrações da fisionomia e do canto dos lábios, e tem gestos parecidos com ele.
O riso é antipático. Dostoiévski diz que se o riso de um desconhecido é agradável, ele é homem honesto. O do V. O. é desagradável, soa como um chocalho de coco ou cabaça.
Há outro caso de imitação entre loucos: um doente que esteve na minha seção foi transferido para outra e lá espiava o A., que vivia pelas salas e corredores a dizer coisas desconexas, palavrões, e repetir, a espaços, a palavra pinacoteca, derivadas e ou acompanhadas de outras, que não fazem sentido com ela. Ao imitador não vi, mas fui informado por pessoa segura que andava de um lado para outro a dizer: pinacoteca, Piabanha.
O doente borrado, seminu, o seu aspecto horripilante.
O seu maneio de sombra no corredor.
Gabrielle Coni — Vers l'oeuvre douce e Fleurs de l'air.
Annuaire international du crédit public.
Attala.
Dia 27-1-20.
Revolta dos presos na casa-forte, às sete horas da noite. Baderna, etc. A revolta é capitaneada pelo D. E., o tal que subiu no telhado. Estão chegando bombeiros e força de polícia. Previ isto. Os revoltosos são vizinhos de quase metade da Seção Pinel. Armaram-se de trancas. Vejo-os cá de cima. O resto da Seção Pinel mantém calma. A nossa está quase sem guardas nem enfermeiros, mas a atitude de todos é de curiosidade. Um acontecimento desses quebra a monotonia e distrai. O Ferraz diz que o Santana é vítima de inimigos traiçoeiros, por ser mulato. Santana é um velho empregado da assistência e muito bom para os doentes em geral. Ferraz, em seguida, acrescenta que ele é um homem velho, tem quatrocentos e vinte anos, já foi Márcio Néri e outros despautérios que eu não pude guardar; mas pode com eles todos. O que é evidente é que alguém fornece meios e modos ao D. E. para ele fazer esses escândalos todos, no intuito de desacreditar alguma pessoa influente no hospício ou mesmo toda a diretoria. A rua encheu-se; há um movimento de carros, automóveis com personagens, e força de polícia e bombeiros; há toques de corneta — um aspecto de grosso motim.
Consta que ele lançou cimentos e varões de ferro. Já tenho medo de ficar aqui.
Há alguns que não são aparentemente doentes, mas que em dados momentos se denunciam em contrário. Os epilépticos, os sujeitos a certas manias que têm um delírio de tempos em tempos. Conheço o E. P. desde que entrei aqui, como homem polido, de certa educação, serviçal, não aparentando a menor mania, senão a de não sair daqui. Foi estabelecido com tabacaria e mostra ter boas relações de amizade. Uma vez atrasou-se no banho; o guarda, ao passar pelo banho para o café, disse-lhe uma coisa sem importância, ele vestiu-se rapidamente, chegou a tempo, o guarda repetiu uma pilhéria sem alcance e, por isso, ele se fez pálido, beiços roxos e tremendo que nem uma pilha. Que seria capaz de fazer?
28-1-20.
O diretor proibiu a entrada dos jornais.
O F. P. atirou fora os abacates que lhe deram, porque os temperaram com açúcar de terceira. Ele é branco de primeira ordem e não negro, nem mulato, para usar tal açúcar.
O nu no hospício. A Liga pela Moralidade. Poucos homens bem feitos; o mesmo no banho de mar. Um único eu vi no hospício. Era um rapaz moreno, olhos e sobrancelhas negras, assim como os cabelos, de um negro bonito e luzente. Perfeitamente imbecil, olhava-me com um sorriso parado, sem dizer nada e nada pedir.
Os jornais foram proibidos, mas todos tinham jornais, entre eles o F. P. e o tal engenheiro C. P. Aquele meço bem alto, que não emprestava a ninguém, olhando para mim, ele que não cessa de pedir-me cigarros, fósforos, jornais e até dinheiro, eu lhe dei para comprar revista. Contudo, o Gastão dos cigarros guarda um para mim. O maluco é em geral mau e egoísta, especialmente o Porto, cujo delírio é de grandeza. Raro é o liberal e agradecido. Só aqueles que caem em profunda loucura é que perdem o sentimento de propriedade. Descobri quem me furtou o livro. Foi o Gato a quem tratei bem e nunca lhe atirei chufas. Deu-o ao Gastão, que viu meu nome e não mo restituiu. Este G. é um rapazola de que já falei, e não tem nada de louco. Simplesmente sujeito a ataques. A Esse tempo, agarrou de aborrecer-me muito, tenho feito muitos obséquios. Este pequeno tem de sair daqui, por força; é muito moço e não tem cura; mas terá um mau destino.
Convém falar no J. C., de Santa Teresa, um louco. A sua loucura. A história dos seus estudos, as suas crises, apelo a misticismo, vícios, etc.
Custa a crer que esses loucos, dois principalmente, V. O. e F. P., me aborrecem e irritam-me. Esqueço de que são loucos e dá-me vontade de vociferar. Vou pedir alta, para não dar essa demonstração de loucura.
— "Un partenaire au jeu est un individu trés émerdant. Toujours il me demande: Est-ce que vous connaissez monsieur un tel? En attendant ma repouse, il dit: Ce monsieur un tel est marié avec ma cousinne qui est fille du docteur un tel. Connaissez vous? — Non. — Au moins le docteur... II a été une notabilité à Valparaiso. — Non. J'avait dit à lui que je suis été au Hospital Central. — Vous avez connut sans doute le general Travassos. Je me fache et en tire faché. Je dit: — Hier j'ait dit ainsi que je mis été au H. C. le dernier année. 'Oh! Mon Dieu de la France! J'étouffe."
F. Porto diz que é tão inteligente que, depois de seis meses de estudar latim, pôs-se a declinar grego, enquanto o irmão levou dois anos para traduzir Virgílio.
O Torres matava camundongos, pelava-os, estripava-os, para dar aos gatos, a fim que não tivessem trabalho de fazer isto.
As rixas! Os heróis delas.
A loucura do cigarro. Um doente, homem rústico, tipo de nosso roceiro, veio para o meu dormitório. Nos primeiros dias, passou bem; mas, não recebendo visitas e, conseqüentemente, fumo ou cigarro, perdeu a quietude e ficou doido. Descrever a noite.
No salão, havia um recorte representando uma pescaria de fúcea feita por mulheres de coifa, à noite ao luar.
Telefone do Schettino — 3863 C
"As leis são como as teias de aranha que prendem os fracos e pequenos insetos, mas são rompidas pelos grandes e fortes." — Palavras de um sábio cita Anacársis, citado por Plutarco, na vida de Sólon.
A., primeiro, repetia — suavemente perfumas a tua lembrança — frase que ele encontrou num livro que me deram.
Este mesmo fez-me ler, na biblioteca, a Dor do Alcindo, com má prosódia, em que pronunciava "inercia" e "esteríl." Aconselhou-me que a lesse, porque educaria melhor o meu espírito que o livro de Renan que estava lendo. Lia um artigo sobre Amiel. A Dor está no volume 24 da Biblioteca das Obras Célebres.
Leio o Plutarco (hospício) vida de Coriolano a Alcibíades. Ambos puseram os seus talentos a serviço dos inimigos de sua pátria, por despeito de serem perseguidos politicamente. Temístocles matou-se. O beócio P. considera todos os três homens ilustres; hoje, aqueles dois não tomariam arma, mas vendê-la-iam em convênios e declarações de guerra, mediante ouro do estrangeiro.
Não esquecer o poltrão do Veiga. Tipo de débil mental.