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O Dote/II

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O mesmo gabinete, três meses depois

CENA I

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ÂNGELO, RODRIGO

(Ângelo está sentado à secretária, pondo papéis em ordem. Rodrigo entra pelo fundo.)

RODRIGO — Recebi o teu recado. Aqui estou.

ÂNGELO (Erguendo-se.) — Ainda bem. (Apertando-lhe a mão.) Obrigado.

RODRIGO — Que há?

ÂNGELO — Fiz hoje o que há três meses, no dia em que chegaste da Europa, me aconselhaste que fizesse.

RODRIGO — Desembuchaste?

ÂNGELO — Desembuchei.

RODRIGO — Ora graças!

ÂNGELO — Disse a minha mulher toda a verdade, toda a medonha verdade. Logo que percebeu qual era o asssunto da conversa, enfureceu­-se. Sabes que eu havia prometido e até jurado nunca mais falar-lhe em dinheiro...

RODRIGO — Sim.

ÂNGELO — Não queria ouvir.., tentava fugir-me... Foi preciso que eu a agarrasse pelo pulso e a obrigasse a ouvir tudo!

RODRIGO — Nessas condições talvez não ouvisse nada.

ÂNGELO — Ouviu com certeza. Pôs-se a chorar... um choro de raiva.., um choro mau, que lhe não conhecia, e me fez descobrir nela, pela primeira vez, alguma coisa que destruía todo seu encanto feminil. E o seu olhar tomou uma expressão inédita.., uma expressão que jamais suspeitei naqueles olhos... uma expressão em que julguei adivinhar, enfim, que a natureza não a fez para mim, nem me fez a mim para ela! Basta um olhar para prender e subjugar um homem... outro olhar é bastante para libertá-lo! (Esfregando os olhos como se saísse de um sonho.) Acabou-se!

RODRIGO — E depois desse olhar? Mais nada?

ÂNGELO — Nada mais. Henriqueta foi para o seu quarto e fechou-se por dentro, batendo violentamente a porta. (Pausa, durante a qual os dois amigos passeiam sem dizer palavra.) A minha situação é desesperadora! Isto não pode continuar!

RODRIGO — Naturalmente. O mesmo disse-te eu há três meses. Mas descansa... vejo as coisas bem encaminhadas.

ÂNGELO — Escrevi hoje a meu sogro.

RODRIGO — Em que sentido?

ÂNGELO — Convidando-o para uma conferência sobre negócios de família. Palpita-me que nada conseguirei de Henriqueta. Pode ser que seu pai consiga tudo.

RODRIGO — E eu? Para que me mandaste chamar?

ÂNGELO — Para te dizer isso mesmo e perguntar-te se aprovas o meu programa.

RODRIGO — Duvido muito que teu sogro lhe faça ouvir a voz da razão. É um fútil. Em todo caso, é de boa política recorrer ao pai antes de tomar uma resolução extrema. É mesmo por aí que deveríamos ter começado. Não me lembrei disso. Que queres? Eu sou pelos meios violentos, tu és pela conciliação. Bem se vê que és advogado, e eu médico.

ÂNGELO — Achas então que fiz bem chamando meu sogro?

RODRIGO — Fizeste muito bem. Se ele não se puser ao teu lado, se tomar as dores da filha, dize-lhe francamente que pode levá-la, e mais

ÂNGELO — O dote irá depoRODRIGO — Não: já.

RODRIGO – Fizeste muito bem. Se ele não se puser a teu lado, se tomar as dores da filha, dize-lhe francamente que pode levá-la, e mais o dote.

ÂNGELO – O dote irá depois.

RODRIGO – Não: já.

ÂNGELO – Onde irei eu buscá-lo de pronto?

RODRIGO – Na algibeira de teu irmão.

ÂNGELO (Apertando-lhe a mão) – Obrigado.

ÂNGELO — Onde irei eu buscá-lo de pronto?

RODRIGO — Na algibeira de teu irmaoÂNGELO (Apertando-lhe a mão.) — Obrigado.

RODRIGO — Para que servem os irmãos? — Quando ficou de vir teu sogro?

ÂNGELO — Estou à sua espera. Creio que não poderá tardar.

RODRIGO — Nesse caso, retiro-me. Voltarei para saber o resultado da conferência. Até logo.

ÂNGELO — Até logo. (Vai sentar-se à secretária e continua a pôr papéis em ordem.)

RODRIGO (Ao sair, encontrando-se com Pai João, que entra.) - Salve, contemporâneo ilustre do primeiro reinado!

PAI JOÃO — Eh! eh! siô doutló Lodligo z’stá senlple blincando (Rodrigo sai.)

CENA II

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ÂNGELO, PAI JOÃO

ÂNGELO — Há alguma novidade, Pai João?

PAI JOÃO — Siô moço doutlô inda não pode paglá cocêlo, nem o copêlo, nem o jiadinêlo?

ÂNGELO — Por quê? resmungaram?

PAI JOÃO — Lez’mungalo, si, siô... Dize que se sió moço doutlô não paga hose, ele z’tudo vai se em bola.

ÂNGELO — Que esperem mais três dias! E, se não quiserem, rua! Canalha, que tem sido tão bem paga até hoje!

PAI JOÃO — Pai Zoão zá cingou ele z’iá dentlo... zá disse o diablo a esse z’sem vlegonha. O/a, se seu moço doutlô não tem dinêio, plo que não pede pletado a siô doutlô Lodligo?

ÂNGELO — Não! não me animo! Tenho vergonha de confessar a Rodrigo a miséria a que me deixei arrastar... Mas tranquiliza-te, Pai João: estou para receber dinheiro.., tenho clientes que me prometeram pagar por estes dias. Depois d’amanhã receberei dois contos de réis.

PAI JOÃO — Ah! é vledade! Tá aí também aquele home...

ÂNGELO — Que homem?

PAI JOÃO — Aquele bonito, que veio s’outlo dia, que usa luneta ledonda num óio só, e meia plo cima de botina, que siô moço doutlô disse que ele ela aziota.

ÂNGELO — Já contava com essa visita. Que maçada! Manda-o entrar.

PAI JOÃO — Si, siô. ( Vai ao fundo e faz entrar Lisboa. Este é um bonito homem, vestido à moda e com extraordinária elegância. Monóculo. Polainas brancas.)

CENA III

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ÂNGELO, LISBOA

LISBOA — Senhor doutor, tenho a honra de cumprimentar a Vossa Senhoria.

ÂNGELO (Secamente.) — Adeus.

LISBOA (Puxando uma cadeira.) — Peço licença para...

ÂNGELO (Retirando-lhe a cadeira.) — É inútil sentar-se. Em poucas palavras o despacho. (Falando sem olhar para ele, e com volubilidade, como para se ver livre quanto antes de tão desagradável visita.) Ainda hoje não lhe posso pagar, e é muito provável que nem amanhã, nem por estes dias mais próximos. Nada receie pelo seu dinheiro. O juro com que mo emprestou foi tão elevado, tão extraordinariamente, tão torpemente elevado, que uma pequena demora em nada o prejudicará. Tenho esta casa.., estes móveis.., posso dispor das jóias de minha mulher.. .mas não quero hipotecar, nem vender coisa alguma: só lançarei mão do dinheiro que tenho a receber. Espero vencer uma grande causa no Supremo Tribunal. Compreende que eu tenha mais interesse em me ver livre de você, que você de mim. Não se me dava de pagar ainda mais juros para evitar a sua presença.

LISBOA — Era isso mesmo o que eu lhe vinha propor.

ÂNGELO — Isso mesmo o quê?

LISBOA — Aumentar o valor da dívida para não esperar de graça.

ÂNGELO — De graça! Pois ainda lhe parece pouco o que...

LISBOA (Interrompendo-o.) .- Entendamo-nos, meu caro doutor. Vossa Senhoria pediu-me dez contos de réis e assinou um título de depósito de quinze.., título com o qual, entre nós, posso metê-lo na cadeia em vinte quatro horas...

ÂNGELO — Se eu não lhe pagar em vinte e três e cinquenta e nove minutos, é exato. Veja você como este mundo é feito... Você, que é um ladrão, pode meter-me na cadeia, e eu, que sou um homem honrado, não posso fazer mais do que estou fazendo... posso apenas cuspir-lhe estes insultos na cara!

LISBOA — Se Vossa Senhoria me diz coisas tão feias antes de me pagar, que fará quando estivermos quites!

ÂNGELO — Quanto cinismo!

LISBOA — Meu caro doutor, quando um não quer, dois não brigam. Insulte-me à vontade.., tem licença para faze-lo... Quando abracei a infamante profissão de emprestar dinheiro a juros, muni-me de toda a coragem, resignação e paciência necessárias para ouvir tudo quanto me quisessem dizer. O dentista é muitas vezes insultado pelo freguês, quando lhe arranca um dente, e não reage. Também eu não reajo. Pagar juros dói, e o insulto é um desabafo instintivo. Um usurário do tempo antigo zangar-se-ia; mas eu, como vê, sou usurário art-nouveau. Não ando sujo nem mal trajado... não tenho a barba por fazer... não uso óculos escuros... não tomo rapé... visto-me no melhor alfaiate, uso os melhores perfumes, sou um elegante.

ÂNGELO (Entre dentes.) — O que você é eu sei.

LISBOA — Vamos! insulte! — Insulte, mas pague. Há três dias que os quinze contos deviam estar no meu bolso: não estão ainda... Bem sei que não correm perigo.., mas é justo que Vossa Senhoria reforme o título de depósito, dando-me novos interesses.

ÂNGELO — Pois não está satisfeito de me haver emprestado dez contos para receber quinze?

LISBOA — Parece-lhe exagerado o meu lucro? Permita dizer-lhe que isso é preconceito, meu caro doutor. E, se não, veja: Vossa Senhoria disse-me que está patrocinando uma causa quase vencida, e está, que o sei. Por ventura o dinheiro com que vai ser pago representa a justa remuneração, o valor intrínseco do seu trabalho? Não! Se lhe aparecesse o mesmíssimo trabalho e lhe rendesse apenas a terça parte do que esta lhe vai render, Vossa Senhoria não a mandaria a nenhum colega pobre.

ÂNGELO — Deixe-me! Preciso estar só.

LISBOA — Mais duas palavras: Vossa Senhoria tem uma doença grave, está em perigo de vida; manda chamar um médico; este vem, salva-o e cobra-lhe cinco... seis... dez contos de réis. Vossa Senhoria paga-lhos de cara alegre, porque entende — e entende muito bem — que a sua vida vale muito mais. Entretanto, o homem que cobra cinco contos para salvar-lhe a honra, mais preciosa que a vida, é um ladrão! Veja Vossa Senhoria como este mundo é feito! Creia-me, meu caro doutor, que todos nós rolamos neste velho planeta, com a mesma preocupação: fazer passar para as nossas algibeiras o dinheiro que está nas algibeiras dos outros. Ele tem muitos nomes... chama-se juros, honorários, bonifi­cações, comissões, gratificações, etc., mas é sempre o mesmo dinheiro; são as mesmas notas que vão e vêm, fogem e voltam deste para aquele maço... desta para aquela mão... fiz como os outros. Vossa Senhoria precisou de dinheiro por estar enforcado. Procurou-me como procuraria um médico, se precisasse de saúde por estar doente. Aproveitei, como aproveitaria o médico. Note-se que não ofereci os meus serviços a Vossa Senhoria.., foi Vossa Senhoria que me procurou, solicitando esse empréstimo. E peço licença para lembrar a Vossa Senhoria que nessa ocasião não fui insultado.

ÂNGELO — Mas, afinal, que deseja?

LISBOA — Já disse. Ou o pagamento imediato dos quinze contos, ou a renovação do título de depósito.

ÂNGELO — Mais cinco contos?

LISBOA — Não! — eu sou menos ladrão do que lhe pareço. Exijo apenas mais dois contos e quinhentos. (Tirando um papel do bolso.) Aqui está o novo título estampilhado. É só assiná-lo.

ÂNGELO (Indo a secretária.) — Repito: você é um ladrão...

LISBOA — Refinado!

ÂNGELO (Tomando a pena.) — Um salteador...

LISBOA — De estrada!

ÂNGELO (Assinando.) — Uma pústula...

LISBOA — Social!

ÂNGELO — Toma, bandido! Que é do outro título?

LISBOA — Cá está. (Trocamos títulos. Ângelo examina o que recebe e rasga-o.)

ÂNGELO — Agora, rua!

LISBOA — Meu caro doutor, sempre às ordens de Vossa Senho­ria. (Vai a sair. Entram Ludgero e Isabel. Lisboa cumprimenta-os com muita correção de maneiras e sai.)

CENA IV

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ÂNGELO, LUDGERO, ISABEL

LUDGERO (Impressionado pela figura de Lisboa.) — Quem é este senhor?

ÂNGELO — Um cliente.

LUDGERO — É um cavalheiro — como direi? — correto.

ÂNGELO — Corretíssimo.

LUDGERO (Apertando a mão de Ângelo.) — Tem passado bem?

ÂNGELO — Menos mal, obrigado.

ISABEL (Depois de apertar a mão de Ângelo.) — E Henriqueta?

ÂNGELO — Boa.

LUDGERO — Recebi o seu bilhete, e aqui estou, quero dizer: aqui estamos, porque, como se tratava de uma conferência sobre negócios de família, entendi que devia trazer comigo minha mulher. Fiz mal?

ÂNGELO — Fez muito bem.

ISABEL — Estou assustada. Há alguma novidade?

LUDGERO — Que novidade quer você que haja, minha mulher? Não há novidade alguma! Jesus! as mulheres são todas — como direi? —impressionáveis.

ÂNGELO — Engana-se, doutor: temos uma grande novidade.

LUDGERO — Ah!

ÂNGELO — E eu peço toda sua atenção — e a da senhora — para o que vou dizer. Sentemo-nos. (Sentam-se.)

LUDGERO — Este mistério!.., esta solenidade! ... (Erguendo-se com veemência.) Dar-se-á caso que minha filha, esquecendo o decoro que deve a si, à família e à sociedade, tenha faltado aos seus deveres — como direi? — conjugais?

ISABEL — Cale-se, Ludgero! ... isso é impossível!

ÂNGELO — Diz muito bem — Henriqueta é a mais pura das mulheres. (Ludgero senta-se, tranquilizado.)

ISABEL — Onde está ela?

ÂNGELO — No seu quarto.

ISABEL — Incomodada?

ÂNGELO — Não; amuada.

LUDGERO — Amuada?

ÂNGELO — Zangada, se quiser.

LUDGERO (Rindo.) — Ah! já sei do se que trata. Ciúmes. A pequena desconfiou de alguma coisa... Ande lá! o senhor não é — como direi? —um santo... não caiu do céu por descuido...

ÂNGELO — Ora essa! afirmo-lhe que sou o mais fiel dos mari­dos.

LUDGERO — Pois sim! No Rio de Janeiro só há um marido fiel.

ISABEL (Sem ironia.) — É você

LUDGERO — Sou eu. (Fazendo menção de levantar-se.) Mas deixa estar, que arranjo tudo!

ÂNGELO (Obrigando-o a sentar-se.) Não! não se trata de ciúmes. Trata-se de coisa muito mais séria.

LUDGERO — Ah!

ÂNGELO — Minha mulher está zangada por causa de uma explicação que tivemos, ou por outra, que não tivemos.

LUDGERO — Uma explicação?

ISABEL — A que respeito?

ÂNGELO — A respeito das nossas despesas.

LUDGERO — Já?

ÂNGELO — Pergunta se já? Pois todo o meu mal foi não ter tido essa explicação há mais tempo, e haver deixado para a última hora, tal qual como no Congresso, a discussão do orçamento. É verdade que sempre chamei a atenção de Henriqueta para as suas despesas excessivas e lhe pedi que as restringisse... Foi o mesmo que nada!

LUDGERO — O senhor fala-nos das despesas de Henriqueta, mas essas despesas não foram feitas pelo casal?.., não as realizaram marido e mulher — como direi? — de comum acordo?

ÂNGELO — Não, senhor—; nesse particular nunca houve perfeito acordo entre Henriqueta e eu. Ela fez sempre grandes gastos sem que eu soubesse ou contra minha vontade.

ISABEL — Que conversa desagradável!

ÂNGELO — Muito desagradável.

LUDGERO — O dote de minha filha não está — como direi? —intacto?

ÂNGELO — Intacto? (Levantando-se e indo à secretária buscar um maço de contas.) Aqui estão as contas, devidamente pagas, com os respectivos recibos e as competentes estampilhas, de tudo quanto gastamos depois de casados. (Dando-lhe um papel separado das contas.) Esta é a relação dessas contas, com as parcelas somadas.

LUDGERO (Lendo.) — Cento e oitenta e 9uatro contos, novecentos e trinta e cinco mil e oitocentos réis! Cáspite! E uma soma — como direi? — avultada!

ÂNGELO — Não figuram aí, necessariamente, as despesas de cujos pagamentos não se tem recibo. Sua filha entrou para esta casa com cinquenta contos e eu com cento e cinquenta, além de tudo quanto de então para cá rendeu a minha banca de advogado. Pois querem saber? Não temos nem mais vintém senão dívidas! (Ludgero e Isabel levantam­-se como ímpelidos por uma mola. Angelo frisa.) Nem — mais — vintém! (Pausa.)

LUDGERO — E que deseja o senhor?.., que eu o auxilie?

ÂNGELO — Não, senhor! Não peço nem desejo absolutamente o auxílio de ninguém. Felizmente não estamos insolváveis; apenas suspendemos pagamentos. O nosso ativo é muito mais considerável que o nosso passivo. Temos esta casa livre e desembaraçada, e o que está cá dentro representa algum dinheiro. E quando nada tivéssemos, teríamos meu trabalho. Não sou, graças a Deus, um advogado sem causas.

LUDGERO — Se é uma alusão — como direi? — pessoal, declaro-lhe que, se não advogo, é porque não quero!

ÂNGELO — Não tive a menor intenção de ofendê-lo, mas o doutor que se ofendeu foi porque, com a triste revelação que lhe acabo de fazer, nasceu-lhe imediatamente no espírito certo sentimento de hostilidade contra mim.

ISABEL — Não há motivo para lhe querermos mal.

LUDGERO — Cale-se minha mulher! O belo sexo não tem voz ativa neste capítulo! São questões — como direi? — transcendentais! — O senhor foi imprevidente.

ÂNGELO — Seria preciso ter estado aqui dentro e assistido às lutas que travei com Henriqueta, para reconhecer que não houve tal imprevidência de minha parte. Leve essas contas consigo... vou pô-las dentro do seu chapéu (Faz o que diz.) . ..examine-as, e encontrará nelas a minha justificação. Mas eu não o chamei para pedir-lhe conselhos, pelo menos para mim, nem para ouvir recriminações feitas a mim ou à sua filha. O que lá vai, lá vai, e o dinheiro que se gastou era meu e dela. Chamei-o para que tente, com a sua autoridade de pai, conseguir o que não alcancei com minha autoridade de marido, porque esse maldito dote sempre foi o estorvo, a resistência que encontraram todos os meus esforços. Hoje resolvi que a explicação fosse decisiva. Ela ouviu-me, enfureceu-se e fechou-se no quarto!

LUDGERO — Mas... que quer o senhor que eu diga a minha filha?

ISABEL — Ora, Ludgero! Dize-lhe simplesmente que ela é pobre, e precisa mudar de vida, isto é, viver como pobre e não como rica.

ÂNGELO — O mais é gastar palavras.

LUDGERO — Isto vai ser para a pobre pequena um sacrifício —como direi? — cruel!

ÂNGELO — Maior sacrifício é uma vida de expedientes, humilhações e vergonhas. — Aquele cavalheiro correto que saía daqui quando o senhor entrava, não era um cliente: era um agiota.

LUDGERO — Um agiota? Ninguém o dirá.

ÂNGELO — Um agiota art-nouveau a quem recorri para um pagamento inadiável de jóias e farandulagens!

LUDGERO (Como tomando subitamente uma resolução.) Minha mulher, vamos conversar com Henriqueta!

ÂNGELO — Isso! Conversem com ela, façam-na entrar no bom caminho. Mas o melhor é ela vir aqui. Lá dentro há criados bisbilhoteiros. Vou mandar chamá-la, e deixo-os aqui no gabinete à vontade. (Sai.)

CENA V

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LUDGERO, ISABEL

(Ludgero passeia agitado e Isabel senta-se numa cadeira em atitude calma. Longa pausa.)

LUDGERO — Não nos faltava mais nada!

ISABEL — Isto não me surpreendeu. Eu sempre disse que, na minha opinião, Henriqueta gastava mais do que devia.

LUDGERO — Deixe-o falar, minha mulher! Gastava do seu! Examine as despesas pessoais de nossa filha, e verá que não chegam aos cinquenta contos do dote. Olhe que cinquenta contos é — como direi? — é dinheiro!

ISABEL — Não desejo contrariá-lo, mas não concordo. Cinquen­ta contos é dinheiro, é muito dinheiro, não há dúvida, nas mãos de um casal poupado, econômico, sem pretensões de grandezas; mas para quem quer deslumbrar o mundo com seu luxo, cinquenta contos é uma pitada de ouro. Nunca supus que aqueles durassem muito.

LUDGERO — Nosso genro não foi homem! Faltou-lhe um pouco de energia — como direi? — máscula!

ISABEL — Foi delicado. Se procedesse por outra forma, seria um bruto, um violento, um mau marido! Devemos reconhecer, infelizmente, que a maior culpa não cabe à nossa filha, senão a nós, e mais a você que a mim, pela educação que lhe demos...

LUDGERO — Eu já sabia que, no final das contas, deveria ser o culpado de tudo!

ISABEL — Pois se Henriqueta parece-se extraordinariamente com o pai! Você é outro arrota- grandezas! Quer que toda gente nos suponha ricos, e sabe Deus o que por cá vai. Se não fosse isso, os nossos velhos anos seriam muito mais tranquilos.., muito mais felizes... (Erguendo-se.) Henriqueta aí vem.

LUDGERO — Vamos — como direi? — apurar as responsabilidades. (Isabel vai ao encontro de Henriqueta, a quem abraça e beija.)

CENA VI

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LUDGERO, ISABEL, HENRIQUETA

ISABEL — Como tens os olhos vermelhos, minha filha!

LUDGERO — Estavas a chorar?

HENRIQUETA (Escondendo o rosto no ombro da ni5e.) — Sou uma desgraçada!

ISABEL — Não digas isso! Desgraçado só é quem perdeu a graça de Deus!

LUDGERO — Mas tu estavas pronta para sair. Aonde ias?

HENRIQUETA — A tua casa.

LUDGERO — Vem cá, senta-te aqui, ao lado de teu pai e de tua mãe, e conversaremos. (Sentam-se. Longa pausa.) Então como foi isso?

HENRIQUETA — Isso o quê?

LUDGERO — O cobre... — como direi? — fogo viste linguiça?

HENRIQUETA — Que queres tu? Não nasci para ser rica; devo resignar-me à miséria.

ISABEL — A miséria, não, minha filha; não fale assim, que Deus pode castigar-te. Teu marido ganha muito dinheiro. É um advogado feliz.

HENRIQUETA — Ele é feliz; eu não o sou.

ISABEL — Porque não quiseste sê-lo, porque não te conformaste com a tua situação. O resultado não podia deixar de ser este.

HENRIQUETA — Não creio, não posso crer que os meus trapos e as minhas tetéias custassem mais que a importância do meu dote.

LUDGERO — Não sei; só sei que vocês gastaram em ano e meio de casados mais de duzentos contos de réis. Estão — como direi? —arruinados.

HENRIQUETA — É impossível que gastássemos tanto dinheiro!

LUDGERO — As contas estão ali dentro do meu chapéu... vou examiná-las em casa.

HENRIQUETA — Admira-me que tu, com a tua idade, e sendo um homem formado, acredites em contas. (Angelo aparece à porta e ouve sem ser visto.)

CENA VII

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OS MESMOS, ÂNGELO

LUDGERO — Queres tu dizer que aquelas são — como direi? —fantásticas?

ISABEL — Que idéia!

HENRIQUETA — Não tenho provas que me autorizem a duvidar da probidade de meu marido, mas — francamente — não acredito que em tão pouco tempo gastássemos conosco, só conosco, duzentos contos!

LUDGERO — Duzentos... e mais alguns poses!

HENRIQUETA — Duzentos contos em quê, não me dirão? A despesa mais considerável que fizemos foi a compra e os preparos desta casa. O mais pouco foi. Não demos bailes, não fornos à Europa, e o luxo, isto que se chama luxo, o verdadeiro luxo, jamais o conheci. Duzentos contos! qual é a família que no Rio de Janeiro gasta tanto dinheiro em tão pouco tempo?

ISABEL — Mas vem cá, minha filha, que necessidade tinha teu marido de forjar dívidas fantásticas? Ele não é nenhum negociante falido.

LUDGERO — Sim, o grande caso é que o dinheiro desapareceu, diz ele, e eu acredito.

HENRIQUETA — Também eu, mas o interesse de meu marido é atribuir a nossa ruína ao que ele chama as minhas loucuras, e ocultar as suas.

LUDGERO — As suas? Pois teu marido praticou loucuras?

HENRIQUETA — É uma coisa que está a entrar pelos olhos!

LUDGERO — Ele joga?

HENRIQUETA — Não é de jogo que se trata, mas de mulheres.

ISABEL — Tira daí o pensamento, minha filha! És injusta para com teu marido e para contigo mesma.

LUDGERO (Abalado.) — Deixe-a falar, minha mulher!

HENRIQUETA — Mamãe disse-me sempre que meus ciúmes eram infundados, mas eu bem percebia que Ângelo me enganava.

LUDGERO — Ele tinha uma amante?

HENR1QUETA — Uma ou mais de uma! Sei lá!...

LUDGERO — Mas quem é ela?

HENRIQUETA — Como queres tu que eu saiba? Ele nunca mo disse! Mas há coisas que uma esposa, e principalmente uma esposa que ama, como eu o amava, adivinha sem precisar ver nem ouvir nada!

ISABEL — Isso é doença!

HENRIQUETA — Logo depois de casada, comecei a desconfiar das suas longas ausências... das horas e horas passadas à noite fora de casa, em misteriosos lugares, de onde voltava fatigado e sonolento. Para tudo arranjava desculpa. Era uma sessão no Instituto dos Advogados.., era uma conferência com tal ministro.., era uma visita ao juiz que estudava uns autos... era isto, era aquilo, mas o que era sei eu! Esse homem abusou cruelmente da minha ingenuidade, e agora quer fazer de mim a única responsável pela situação em que nos achamos!

LUDGERO — Que diz você a isto, minha mulher?

ISABEL — Digo que nossa filha está doida. Se ele voltava para casa fatigado e sonolento, era por ter trabalhado muito. Ângelo é um trabalhador.

LUDGERO — Pois olhe, eu dou razão a Henriqueta. Ela expôs a situação com muito critério, e com uma lucidez — como direi? — esmaga­dora!

ISABEL — Cale-se, homem de Deus! O que você está fazendo é horrível! Não foi para isso que viemos a esta casa! Pois em vez de tirar estas fantasias mórbidas do cérebro de sua filha, você concorda em que julgue tão mal o marido? Raciocinemos um pouco. Ângelo gostava muito de Henriqueta. Sem isso não se teria casado. Não o fez certamente atraído pelo grande dote de cinquenta contos, pois não lhe faltavam noivas mais ricas, se ele as quisesse. Não foi o teu dote, minha filha, mas os teus dotes que o seduziram. Como se pode acreditar que um homem logo depois de casado nessas condições, comece a enganar a mulher? Isso não entra na cabeça de ninguém! E demais, se Ângelo foi tão econômico em solteiro, não é crível que só depois de casado desse em perdulário.

LUDGERO — Ora, minha mulher, você não conhece os homens.

ISABEL — Nem você as mulheres, que são mais enigmáticas.

LUDGERO —Já lhe disse que o meu desejo era apurar as responsa­bilidades. Que razão tem você para meter a mão no fogo pelo nosso genro? Pois saiba que em solteiro foi um terrível, um conquistador, e depois de casado... não sei, mas não se livra da fama de ter tido um —como direi? — um idílio com a Dobson, e os idílios com a Dobson não custam menos de trinta contos.

ISABEL — Isso é uma calúnia miserável! Se teu marido te enganas­se, minha filha, não seria com a Dobson, uma desgraçada mãe de família que é de quem a queira e possa gastar algumas centenas de mil réis. Isso de trinta contos é uma história. A Dobson é muito mais módica.

LUDGERO — Pois se não foi a Dobson, foi outra, ou foram outras, mas não há dúvida que andaram nisto mulheres.

HENRIQUETA — Ainda bem que papai me dá razão. Ele sabe da vida mais que tu, mamãe, que és boa e julgas a todos por ti. Se eu já não estivesse convencida das infidelidades de Angelo, bastariam as palavras de papai para me abrir os olhos.

ISABEL — Pois pode papai limpar a mão à parede: fê-la bonita!

HENRIQUETA — Mas não! não era preciso outro aviso senão do meu próprio amor. Mulher nenhuma poderia ocupar em segredo o meu lugar no coração daquele homem.

LUDGERO — Querer arrancar do espírito de Henriqueta a convicção em que ela está, convicção que é também minha, é supô-la —como direi? — uma estúpida! (Erguendo-se.) Nossa filha está sob o peso de uma acusação tremenda, a de ter arruinado um homem como uma reles cocote! É preciso que se saiba que esse homem... (Voltando naturalmente o rosto, vê Ângelo e fica embaraçado.) Ah! estava aí?... (Isabel e Henriqueta levantam-se.)

ÂNGELO — Ouvi tudo sem querer. Vejo que meu processo está feito e a minha sentença lavrada. Não lhe ponho embargos. Curvo a cabeça. Dom Juan desce aos infernos!

ISABEL — Desculpe-os, Ângelo!... Minha filha está fora de si... meu marido endoideceu! ... O senhor está muito acima de tais insinu­ações!...

ÂNGELO — Peço à minha advogada que não continue a defender um réu confesso. Tudo quanto aqui se deu é a pura verdade. Tenho tido muitas amantes depois de casado... não a Dobson, que só conheço de vista, mas outras muitas, muitíssimas. Para pagar os beijos dessas mulheres, esbanjei o melhor do meu patrimônio, inventei despesas fantásticas. Sou um vicioso, e o vício é caro, muito caro, custa contos e contos de réis. O amor é baratinho, mas não bastava aos meus instintos de sátiro. Ainda agora o senhor dizia que é o único marido fiel do Rio de Janeiro, e eu sabia que meu sogro era, realmente, uma avis rara, o homem virtuoso e puro por excelência; quis imitá-lo mas a minha educação, o meu caráter, o meu temperamento, os meus hábitos, a minha debilidade moral não permitiram que na mesma família figurassem dois fenômenos iguais. (Pausa. Ninguém responde. Henriqueta parece uma estátua.) Agora, só nos resta tratar do divórcio, (Henriqueta estremece.) e quanto antes, para que na sua família não permaneça por mais tempo um celerado da minha espécie.

ISABEL — Fala em divórcio! Meu Deus! Enlouqueceram todos!...

LUDGERO (A Ângelo.) — Em vez de prostrar-se, humilhado aos pés de sua esposa. pedindo-lhe perdão de a ter acusado de faltas cuja responsabilidade moral deveria ser — como direi? — recíproca, o senhor procura, com um pouco de ironia fácil, destruir o mau conceito em que poderá ser tido como cabeça do casal: mas nem minha filha nem eu nos deixamos levar por esse artifício, e, uma vez que o senhor falou em divórcio, fique sabendo que Henriqueta não quer outra coisa!

ISABEL — Ludgero, veja o que estás dizendo!...

ÂNGELO (Aproximando-se de Henriqueta.) — Isso é verdade?... Quer separar-se de mim? (Henriqueta nâo tem um gesto.) Responda!

HENRIQUETA (Sem olhar para ele.) — Assim é preciso.

ÂNGELO — Por quê?

HENRIQUETA (Idem.) — Porque estamos incompatibilizados um com o outro. Daqui por diante a nossa vida seria um inferno.

ÂNGELO — Diga antes que não lhe sorri a idéia de viver modestamente, e receia o motejo da sociedade que assistir satisfeita ao leilão das nossas carruagens e tripudiar sobre os destroços do nosso luxo ridículo! É ainda a sua vaidade que fala... O amor, esse desapareceu com o último níquel! (Henriqueta estremece.)

LUDGERO — O senhor insulta a minha filha!...

ÂNGELO — Sua filha... Sim, é bem sua filha, mas é minha mulher, e os meus direitos sobre ela são tão sagrados, que o senhor não poderia intervir neste conflito doméstico, se não fosse a minha indesculpável patetice de supor que, não o seu critério de homem, mas o seu amor de pai, poderia influir para uma conciliação que era todo o meu desejo.

HENRIQUETA — Não minta! Todo seu desejo era ver-se livre de mim!

ISABEL — Henriqueta, cala-te.

HENRIQUETA — Não! não me calo! Não quero continuar a ser uma vítima resignada e tola!... Uma conciliação!... Tem graça!... Pois não é que ele supõe que ainda o amo... que ainda o posso amar?... (Rindo-se.) Ah! Ah! Ah! Como se fosse possível amá-lo depois do que ele me fez... e depois do que lhe acabo de ouvir! Não, não, mamãe! eu já o não amo! ... Eu... odeio! (Ri mas o riso transforma-se em pranto e ela cai nos braços de Isabel, desfeita em lágrimas.)

LUDGERO — Aqui tem sua obra!... O senhor é capaz de matá-la!... Oh! mas, se assim for, saberei — como direi? — vingá-la!... Vamos, Henriqueta! Vem para casa de teu pai!... (Rodrigo aparece à porta do fundo e ouve sem ser visto.)

CENA VIII

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OS MESMOS, RODRIGO

ÂNGELO — Isso!... Leve-a, leve-a consigo, e que eu nunca mais lhe ponha a vista em cima! Mandar-lhe-ei hoje mesmo as jóias, as toale­tes, e o dote, esse desgraçado dote, que foi a causa de toda a nossa desgraça!

LUDGERO (Rindo.) — Acredito que o senhor lhe mande as jóias e as toaletes; mas o dote...

RODRIGO (Aproximando-se de Ludgero e estendendo-lhe um maço de notas do Banco.) — O dote pode o senhor levá-lo já. Cá está ele em cem notas de quinhentos mil réis cada uma. E bom conferir. (Ludgero, atônito, recebe maquinalmente o maço de notas. A Ângelo.) Eu já contava com isso... O dinheiro estava de prontidão.

LUDGERO (Perplexo.) — Mas...

RODRIGO — O senhor está perplexo; entretanto, não há nada mais — como direi? — mais natural. Seria desairoso para o meu amigo que dona Henriqueta saísse desta casa sem levar o seu dote.

LUDGERO — Quer um recibo?

RODRIGO (Rindo.) — Mandá-lo-á quando receber o resto.

ISABEL — Ludgero, não tem feito senão asneiras! Restitua esse dinheiro!

LUDGERO — Minha mulher, você não se meta onde não é chamada! Vamos embora!...

ISABEL — Não! Isto não pode ficar asssim!

LUDGERO — Ande para a frente com sua filha! Vamos! (Vai buscar o chapéu e põe as contas debaixo do braço. Henriqueta e Isabel encaminham-se para a porta. Ao sair, Henriqueta volta-se para Angelo. O pai empurra-a para a porta. Ángelo dá um passo para e/a; Rodrigo toma-o pelo braço, impedindo-o de prosseguir. Saem Ludgero, lsabel e Henriqueta.)

CENA IX

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RODRIGO, ÂNGELO

(Rodrigo vai até a porta verificar se naturalmente eles se foram. Ângelo cai abatido numa cadeira, escondendo o rosto nas mãos.)

RODRIGO (Voltando, alegre.) — Ora muito bem! Já se respira nesta casa! ... Agora é tratar de liquidar tudo isto, pôr a vida em ordem e começar de novo!... (Vendo Ángelo abatido.) Então, que é isso? Coragem! Levanta-te! Vamos fazer um inventário das toaletes e das jóias e mandar-lhes tudo! Amanhã mesmo trataremos do leilão. Tu irás morar comigo em Santa Teresa. Lá está ainda o teu quarto. (Ângelo começa a chorar convulsivaniente.) ÂNGELO! meu irmão ! que quer isto dizer?...

ÂNGELO — Isto quer dizer que a amo... que a amo mais do que nunca1

[(Cai o pano.)]