O Homem que Subiu em Aeroplano até a Lua

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EDITOR-PROPRIETARIO
JOÃO MARTINS DE ATHAYDE
HISTORIA
DO HOMEM QUE SUBIU EM
AEROPLANO ATE´ A LUA



No tempo de Babylonia
há muitos anos atraz
um homem todo gigante
falou um dia aos seus pais
que tinha grande vontade,
de correr a imensidade.
nem que não voltasse mais.

Baratão era o seu nome
pela historia conhecido,
era um grande aventureiro
por todo mundo corrido
de nada tinha receio
p'ra tudo ele achava meio,
nunca ficou entupido.

Ele tinha um oficina
por ser muito bem montada,
fazia tudo no mundo
cada maquina enrascada !...
ficava o povo tão besta
vendo toda aquela festa,
da oficina afamada !

O boeiro da oficina
era grosso e tão comprido
como a torre de Babel
de ferro só construido
o motor era um danado
corria tão apressado,
que só se ouvia o zunido,

Essa oficina fazia
espada, lanças, couraças
cada um cantão pavoroso
que tinha mais de cem braças,
um tiro desse canhão
derrubava um batalhão,
nem que tivesse mil praças.

Uma vez foi Baratão
aos engenheiros e disse,
que inventassem um motor
que até á lua subisse :
gritou a todos zangado
que o motor fosse inventado,
nem que a cachola partisse.

Dentro de um mez inventou-se
o motor de Baratão,
depois de tudo arranjado
serviu de admiração
tinha as azas p'ra subir
e não podia cair
pois era forte a armação,

Era uma cousa horrorosa
a tal maquina inventada,
uma legua de comprida !
depois que ficou armada
todo mundo veio ver
apenas para conhecer
a maravilha falada.

O motor tinha uma casa
de aço toda fornida,
p'ra mais de mil corrupios
todos de prata batida
tudo era fino e custoso
num salão bem espaçoso,
havia agua e comida

Tinha força p'ra levar
todo o povo da cidade,
foi muito bem construido
movido á eletricidade
corria só pensamento
se faltasse mesmo o vento
voava sempre a vontade.

Baratão se despediu
de todo o povo e dizia,
que dentro de uma semana
lá na lua chegaria
toda gente duvidava
e que ele nunca chegava,
mangando dele sorria.

Baratão vestiu-se todo
de um roupão de aço feito,
mandou ver se o motor
estava firme e direito
e disse ao maquinista :
—apronte tudo, se vista
veja se isto tem geito.

Daí a pouco a sinêta
deu sinal para subir,
o maquinista e o pilôto
sabiam bem dirigir
o povo estava ansiôso
e o bicho misteriôso,
começava a se bulir.

Baratão mandou largar
e logo o bruto roncando,
lá se vai pelas alturas
já pelas nuvens passando
o povo besta ficou
e muito tempo passou,
de Baratão se falando.

Já faziam oito dias
que o aeroplano voava,
estava perto da lua
e pouco tempo gastava
Baratão já estava mole
de tanto soprar no fole.
para ver se assim respirava.

De repente um barulhão
no aeroplano se ouviu,
era uma aza do bruto
que a manivela partiu
mas o pilôto depressa
fez o concerto na peça,
o aeroplano seguiu.

Baratão chegou na lua
a meia noite em ponto
sem dormir oito dias
já estava fraco e tonto
foi dormir um bocadinho
para de manhã cêdinho,
está dispôsto e bem pronto.

Quando foi de manhãsinha
eles não se levantaram,
era um somno tão pesado
que nem na lua pensaram
os habitantes de lua
quando sairam para a rua,
muito espantados ficaram.

Todo povo se juntou
para ver aquele troço,
jogavam pedras, batiam
fazendo grande alvoroço
que o pessoal do motor
levantou-se com terror,
vendo aquele catrapoço.

Baratão e o pessoal
nem sabiam a onde estavam,
era um sono tão damnado
nem do motor atinavam
foram a porta e abriram
e os habitantes que viram,
no motor todos entravam

Imagine que chafurdo
fiseram com Baratão !. . .
o pessoal do motor
correu tudo em camisão
quando viu que esta gente
em gritalhada estridente,
carregava um páu na mão,

Baratão gritou a todos
que fossem logo se armar,
que os habitantes da lua
queriam lhe devorar
ficou tudo bem armado,
cada um com seu machado,
foi toda gente esperar.

Daí há pouco foi sangue
que fez lagôa no chão,
os habitantes da lua
lutavam sem coração
mas tinha um mêdo damnado,
do pessoal do machado,
armado por Baratão.

O piloto e o maqninista
com a cabeça lascada,
cairam logo sem sentidos
depois da guerra serrada
só restava o capitão
ajudando Baratão,
numa coragem danada.

Com duas horas depois
o capitão cambaleia,
caindo morto no chão
mas Baratão não receia
de muita força no braço
fazia tudo em pedaço,
puma luta horrenda e feia.

Findou-se a luta de noite
Baratão é vencedor,
mais o povo enraivecido
arrebentou o motor
Baratão de tão cançado
caiu no chão desmaiado,
a gemer com muita dor.

Baratão quando tornou
ficou muito aperriado,
vendo o seu aeroplano
lá no canto esbandalhado
e de tanto imaginar
como havia de voltar,
ficou quase amalucado.

Estava tudo deserto
não se ouvia um ruido,
Baratão se decidiu
depois de ter refletido
de sair deste lugar
pôz-se logo a caminhar,
quass mole e mal comido.

Depois de longa viagem
sem parar um só instante,
Baratão foi dar em frente
de um palacête importante
morava aí um Sultão
celebrava-se um festão,
o aniversario de Amante.

Amante era uma princesa
unica filha real!
era tão linda e tão alva
que parecia um cristal
com quinze anos somente
seduziu toda gente,
com seu riso sem igual.

Baratão se decidiu
a entrar no palacête,
p'ra poder ter a licença
se apresentou ao cadeta
que o batalhão comandava,
e o pelotão que formava,
era armado de cacête.

O cadête subiu logo
para o Sultão avisar,
qua gente de outra nação
desejava lhe falar
o Sultão admirou-se
e disse fosse quem fosse,
ordenasse para entrar.

Baratão todo garboso
com sua farda encarnada,
com firmeza e rapidez
atravessou a escada
a princesa quando o viu
muita alegria sentiu,
e ficou apaixonada.

Baratão entrou na sala
onde estava o gran-Sultão,
tocou a banda de musica
houve grande animação
foram para a mesa e jantaram
os dois então discursaram,
na maior satisfação.

Baratão a todos disse
que da terra era habitante,
na lua veio parar
num motor grande e possante
que o povo bravo quebrou
sem poder voltar ficou,
pelas montanhas errante.

Ficaram todos surpresos
sem nem poderem falar,
e pensaram ser mentira
que ele acabou de contar
Baratão quando provou
com papeis que lhe mostrou,
não quizeram duvidar.

O Sultão ofereceu
um quarto p'ra Baratão,
uma cama prateada
com um macio colchão
tudo que ele precisava
roupas finas ele encontrava
e mais criado a prontidão.

Tanto dias se passassem
como o Sultão se alegrava,
mas cuntente e jovial
do que ele, Amante estava
pois no jardim todo dia
mas o Sultão não sabia,
com Baratão coversava.

O Sultão todos os dias
saia p'ra passeiar,
com Baratão pelos campos
para tudo lhe mostrar
mas o nosso Baratão
prestava pouca atenção,
só na princesa a pensar.

Toda familia real
Gostava de Baratão,
por saber que ele era
um homem de educação
fazia todo aparato
dispensando todo trato,
merecido com razão.

Baratão ficava triste
porque amava a princesa
e não podia falar-lhe
assim com tanta afoiteza
suspeitava que o Sultão
lhe negasse a sua mão,
por não ser da realeza.

Mas a princesa lhe disse:
—não te vexes Baratão
pois há um dia no ano,
que meu pai faz concessão
não nega nada a ninguem
até os presos tambem
ele concede o perdão.

É o dia de seus anos
esse dia venturoso,
daqui mais a na quatro meses
fique certo e esperançoso
se minha mão for pedida,
ela será concedida,
e tú serás meu espôso.

Baratão ficou contente
e começou a esperar,
esse dia desejado
que ele havia de dar
a mão da linda princesa
e assim com toda certeza
na realeza ia entrar.

Era, uma vida risonha
que Baratão dissipava,
embora fosse escondido
mas com Amante falava
ela de noite ia a varanda
e ele fóra de outra banda,
a noite inteira prosava.

Chegando os dias dos anos
dos festejos do Sultão,
para fazer o seu pedido
estava pronto o Baratão
numa sala reservada
o Sultão fez a chamada,
p'ra quem quizer concessão.

Baratão pediu licença
ao Sultão para falar,
um importante negocio
tinha com ele a tratar
o Sultão mandou que chegasse,
p'ra bem perto e se sentasse,
Baratão poz-se a narrar.

-— Gran-Sultão venho pedir
com respeito e seatamento
sem temer ser recusado
vossa filha em casamento
há muito eu amo a princesa
p'ra ela não é surpreza
este meu sublime intento.

O Sultão muito contenta
concedeu-lhe este pedido,
chamou logo a sua esposa
para saber do ocorrido
do casamento de Amante
ficou tudo num instante,
acertado e resolvido.

Quando Amante soube disso
de alegria desmaiou,
nesse dia foi um fravo
e todo e povo dançou
foi banquêtes mais banquêtes
buscapé, bomba foguêtes,
toda a côrte se formou.

Foi uma festa tão grande
se dançando e se bebendo,
com seis dias e seis noites
o povo foi enfraquecendo
pegou num somno damnado
acordou-se empazinado,
foi um andaço tremendo.

O casamento de Amante
era daí a um mez,
Baratão que estava alegre
alegrou-se de uma vez
pois esperava uma herança
da toda aquela papança,
só de casar trinta e seis.

Um capital de mil contos
já por mez ia render,
estou rico desta vez—
começou ele a dizer—
um reinado p'ra mandar
riqueza para gozar,
que vidão eu hei de ter !

Chegou os dias das bôdas
de Amante e Baratão,
se no pedido houve festa
agora sim com razão
bolos finos e cerveja,
em bandeja e mais bandeja,
haja bomba e foguetão.

O povo já não sabia
como havia de brincar,
de beber e de comer
como havia de dançar
fez-se um bougquêt para os noivos,
de cravos, lírios e goivos,
quando foram se casar.

Uma enorme carruagem
dois mil carros enfeitados,
os arreios dos cavalos
eram todos prateados
as egrejas repicavam
e todos flôres jogavam,
sobre os noivos aclamados,

Houve festa p'ra dois mezes
no reinado do Sultão,
tres mil contos se gastou
com Amante e Baratão
fazia gosto se ver
tanta bebida e comer,
do povo a disposição.

Saiu depois Baratão
p'ra seu novo palacête,
o povo todo esperou
com girandólas e foguete
foi outro frevo arrojado
onde lhe foi preparado,
um rico e lauto banquete.

Baratão mais sua Amante
hoje vivem calmamente
embora já bem velhinhos
não tendo mais nem um dente
mas como tem um licôr
que dá-lhe todo vigor,
viverão eternamente.

Quem duvidar dessa historia
vá na lua perguntar,
só assim por este meio
pode se certificar
se isso foi certo ou não
a familia de Baratão,

vive ali para provar.

T.VIII

Esta obra entrou em domínio público no contexto da Lei 5988/1973, Art. 42, que esteve vigente até junho de 1998.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.

Todas as obras publicadas antes de 1.º de janeiro de 1929, independentemente do país de origem, se encontram em domínio público.


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