O Piolho Viajante/LXVIII
O tal rapaz, se o pai fosse vivo, metia-o no montado com os porcos, porque era um destes brutos em toda a sua perfeição. Até era doido por bolotas. Mas não tinha jeito para trepar. Era um atarantado. Também com muita brevidade foi gastando o que tinha, de sorte que logo que a mãe lhe morreu, ele também se pôs a morrer, sem ser de saudades, mas de fome. Tratou de casar para ver se achava quem o sustentasse, porque muitos homens de bem fazem o mesmo. E, com efeito, apareceu uma rapariga vizinha a quem o pai dava de dote dois porcos e seis porcas, fora a filha que era bastante enxovalhada. Mas o rapaz não quis e respondeu que tinha outros fumos e que não queria seguir a vida de seu pai.
Assim foi vivendo até que se embrulhou com outra rapariga muito aninhada que, sendo eles dois, no fim de nove meses apareceram três. Obrigaram-no para casar. Ele arrumou os pés à parede, que assim era, que ele não tinha nada de seu, mas que também não devia nada a ninguém. A rapariga dizia que sim, que devia e mais devia. Pôs-se a coisa em prova. Uns diziam que sim, outros que não. No fim de contas, foi sentenciado a casar ou a ir degredado para Lisboa. E não se admirem vossas mercês desta qualidade de degredo porque como esta história sucedeu na Índia, assim como de Lisboa mandam os degredados para a Índia, assim os da Índia mandam-nos para Lisboa.
Não houve outro remédio. Casou. Um sujeito que ali havia e que muitos diziam que também era culpado na multiplicação, pôs a casa e com muito asseio, que até o leito tinha os pés de ferro por causa dos percevejos. Mas o tal fez-se percevejo porque se lhe meteu em casa e, por fim, pôs o noivo na rua. Ele também não mostrou muita pena com isso porque não era muito apaixonado da mulher. Isto é, da dele. Por encurtar razões, acabou guardando carneiros só por levar a sua avante de não guardar porcos. Eu não gostava nada de tal cabeça porque ali não havia uma só coisa que fosse útil. Pus-me à pesca a ver se aparecia alguma coisa com jeito, até que chegou a ocasião de eu ir para a de um caseiro de uma quinta, que ficava ali perto, e que faz a