O carro nº 13/VI
Antonina recebeu o noivo com a mesma alegria do costume. Marcondes agradou a todas as pessoas da casa pelo gênio galhofeiro que tinha, e apesar da tendência para os discursos intermináveis.
Quando, pelas onze horas e meia da noite, saíram de casa de Carvalho, Marcondes apressou-se a dizer ao amigo:
— A tua noiva é linda.
— Não achas?
— Decerto. E parece que te quer muito...
— É por isso que eu lamento ter escrito aquela carta, disse Amaro suspirando.
— Olha que parvo! exclamou Marcondes. Por que motivo há de Deus dar nozes a quem não tem dentes?
— Acreditas que ela responda?
— Se responde! Eu estou traquejado nisto, meu rico!
— Que responderá ela?
— Mil coisas bonitas.
— Afinal em que dará tudo isto? perguntou Amaro. Eu creio que ela gosta de mim... Não te parece?
— Já te disse que sim!
— Estou ansioso por ver a resposta.
— E eu também...
Marcondes dizia consigo mesmo:
— Era bem bom que eu tomasse para mim este romance, porque o palerma estraga tudo.
Amaro percebeu que o amigo hesitava em dizer-lhe alguma coisa.
— Em que pensas? perguntou-lhe.
— Penso que tu és um palerma; e sou capaz de continuar o teu romance por minha conta.
— Isso não! já agora deixa-me acabar. Vamos ver que resposta vem. Quero que me ajudes, sim?
— Pronto, com a condição de que não hás de ser tolo.
Separaram-se.
Amaro foi para casa, e tarde conciliou o sono. A história das cartas enchia-lhe o espírito; imaginava a mulher misteriosa, construía dentro de si uma figura ideal; dava-lhe cabelos de ouro...