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72 | 40 anos no interior do Brasil: aventuras de um engenheiro ferroviário

grupos de pequenas e simples casas de madeira nas quais moram uma turma de cinco a dez trabalhadores com um capataz. Cada turma deve zelar por uma distância de sete a dez quilômetros de trilho. Pois todas estações ficam quinze a trinta e cinco quilômetros distantes umas das outras, de modo que é realmente impossível deixar que a ferrovia seja cuidada pelos trabalhadores das estações.

Era mais ou menos meia-noite quando paramos na primeira dessas Casas. As pessoas, que estavam sem saber de nada, vieram completamente transtornadas de seus cômodos. Foi-lhes dito que se preparassem para que as mulheres e crianças embarcassem no trem quando ele voltasse. O mesmo se repetiu em todas as Casas.

A paisagem havia se alterado nesse meio-tempo. Nós estávamos na serra, cerca de quinhentos metros de altitude acima de Porto União. O terreno ondeado se espraiava por ambos os lados da estrada de ferro. As escuras silhuetas das florestas de pinheiros recuavam distantes. Em contraste, pudemos perceber com uma precisão crescente o brilho do fogo de Calmon queimando, embora estivéssemos no mínimo quinze quilômetros distantes de lá. Devagar seguíamos adiante. Depois de percorrido aproximadamente um terço do trajeto, o calor já se fazia sentir claramente no lado do trem virado para o local que queimava. Na última Casa, a qual ficava na floresta e distante pouco mais de cinco quilômetros do fogaréu, encontramos um trabalhador polonês que nos disse ter testemunhado o ataque dos Fanáticos. Eu, evidentemente, pedi-lhe que narrasse o acontecimento.

“Ah, Panje,[1] eu não posso dizer muito, já que fugi o mais rápido que pude."

"Mas você deve ter visto alguma coisa! Onde está o diretor da estação?"

 

  1. Forma de tratamento de origem eslava, correspondente a senhor. (NdT)