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Página:A Dança do Destino - Lutegarda Guimarães de Caires (1913).pdf/18

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Collecção Antonio Maria Pereira

vor do presente e fechava os olhos para não vêr o triste quadro da realidade. Mas debalde; porque à medida que se distanciava d'aquela casa, onde deixára a aflicção e o desanimo, dançavam-lhe no cerebro todas as cousas disformes que o enlouqueciam.

E lá ia perseguido pelo chapeu de rosas desbotadas, n'essa absorvente visão que o torturava....

Depois, os pequeninos pés do filho, que êle quereria envolver de beijos, a sahirem pelas botas rotas, via-os n'uma cruel obsessão, pousados sobre as rosas emmurchecidas, que tombavam desfolhadas...

 
IV
 

Mas que frio que o fazia tiritar, agora, n'esse gelado mez de dezembro, e quasi o tornava corcovado, tão encolhido andava no misero abrigo do seu ridiculo casaquinho, já no fio!...

Ai, a sua pobre e miseravel vida!

E ainda havia de hesitar? Êle! que lhe era preciso afectar uma philosophia, que estava longe de ter, para afrontar serenamente, quando sahia á rua, os olhares odiosamente compassivos dos amigos que encontrava!...

Aqueles cinco mil reis iam transformar tudo n'essa noite memoravel. Não seria talvez n'um cau-