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A esperança

 

Conduzindo-te aqui n'est'hora extrema!
Como os anjos no céo amam a Deus,
Amei-te eu, ó Sabino, cá na terra!
De saudades vivi longe de ti,
A vida d'um passado só nutrindo
Que me fôra tão caro, tão ditoso!..
Jámais volveu um dia, hora, ou instante
Que de ti se olvidasse a tua amante!
Meditando ao luar, ai, quantas vezes
A abobada celeste contemplava,
As estrellas olhando uma por uma,
Para vêr se atinava com aquella
Que teus olhos formosos estremassem!
Outras vezes na lua reflectido
Teu rosto figurava meigo e lindo;
Quando o sol despontava, eu lhe dizia:–
Como outr'ora não és já tão formoso!
Nos raios teus não vejo tanto brilho;
A presença d'amôr é quem te doira,
É elle que abrilhanta a natureza,
Quem lhe realça em fim as mil bellezas
De refulgir deixaste para mim
Quando do meu amor me separaram
Esses Fados crueis que me perseguem!..

E a virgem mais e mais empallidesce
A morte despiedada vê chegar
E na gelida dextra a dextra amada,
Pela ultima vez quer estreitar.

Olinda

Viviremos nos ceus eternamente
Já que fomos na terra separados
Já que nos condemnou a cruel sorte
A viver vida triste de saudade!
A existencia s'esvae... eu morro, ó Bardo!..
Acolhe os meus suspiros derradeiros!..
O meu ultimo adeus!.. esta minh'alma...

E do amante a fronte unindo-a ao seio,
Inda uma vez contempla a suspirar,
Fitando-a com meiguice, até dos olhos
O derradeiro lume se apagar!

Cançado de soffrer o triste Bardo
Tão forte dôr não póde já vencer
E unindo ao coração a extincta amante
Se deixa alli com ella fenecer.


 

 
Erratas

No n.º 10, pag. 78, onde se lê —Do penitente humilde me ajudára: deve lêr-se —Do penitente humilde se apiedára. Na mesma pagina, onde se lê —Fé que visse indomavel perseguir-me— deve lêr-se — Té que visse indomavel perseguir-me. Em o n.º 13, pag. 99, onde se lê — Não leves azas dos ventos — deve ler-se: — Nas leves azas dos ventos.

 
 
Amisade

(No album da minha presada amiga D. Maria das Dores T.G.L.)

Tu sabes qual é o anjo,
Tudo meiguice e ternura;
Que mitiga nosso pranto,
Que adoça nossa amargura?

Quando nos devora o peito,
Amargo cruel sentir;
É então que o meigo anjo
Não apparece a sorrir!

Tu já sabes como é bello
O sorrir d'um serafim?
Muitas vezes o tal anjo,
Se tem rido para mim...

Este archanjo tão formoso
Nos conduz á felicidade!
O seu nome, queres sabel-o?

O seu nome é ― Amisade .―