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Página:A Reforma da Natureza (12ª edição).pdf/15

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A REFORMA DA NATUREZA
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— Estou fazendo o passarinho-ninho. A boba da Natureza arruma as coisas às tontas, sem raciocinar. Os passarinhos, por exemplo. Ela os ensina a fazer ninhos nas árvores. Haverá maior perigo? Os ovos e os filhotes ficam sujeitos à chuva, às cobras, às formigas, às ventanias. O ano passado deu por aqui um pé-de-vento que derrubou o ninho deste tico-tico, ali da minha pitangueira — e lá se foram três ovos tão bonitinhos, todos sardentinhos. E mais uma vez me convenci da "tortura" das coisas. Comecei a reforma da Natureza por este passarinho.

A Rã não entendeu que reforma era aquela e perguntou:

— Para que esse afundamento aí nas costas do tico-tico?

— Pois é o ninho — respondeu Emília. — Faço o ninho dele aqui nas costas e pronto. Para onde ele for, lá vão também os ovos ou os filhotes — e não há perigo de cobra, nem de ventania, nem de chuva.

— De chuva há — disse a Rãzinha. — Nos ninhos em árvore a fêmea está sempre em cima dos ovos. Mas aí. . .

Emília fez um muxoxo de superioridade.

— Já previ todas as hipóteses — disse ela. — Faço a caudinha dele bem móvel, de modo que possa virar para trás e cobrir os ovos quando for preciso, como se fosse um telhadinho.

A Rã deu-se por satisfeita e com a maior atenção acompanhou o preparo do primeiro passarinho-ninho do mundo.

— Pronto! — exclamou Emília por fim. — Faltam só os ovos. Corra ali e me traga o tico-tico fêmea que está na gaiola.

A Rã foi e trouxe o passarinho. Emília pegou-o com muito jeito e espremeu-o de modo que saíssem três ovinhos sardentos, os quais depositou com muito cuidado no ninho de penas feito nas costas do tico-tico macho — e soltou os dois, prr! ...

Emília estava radiante.

— Lá se foram! — exclamou. — Acabaram-se as inquietações, os medos de cobra, formiga ou vento. E também se acabou o desaforo de todo o trabalho de botar e chocar os ovos caber só à fêmea. Os homens sempre abusaram das mulheres. Dona Benta diz que nos tempos antigos, e mesmo hoje entre os selvagens, os marmanjos ficam no macio, pitando nas redes, ou só se ocupam dos divertimentos da caça e da guerra enquanto as pobres mulheres fazem toda a trabalheira e passam a vida lavando e cozinhando e varrendo e aturando os filhos. E se não andam muito direitinhas, levam pau no lombo. Os machos sempre abusaram das fêmeas, mas agora as coisas vão mudar. Esse tico-tico, por exemplo, tem que tomar conta