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A Rã experimentou e não conseguiu, mas "bissurdo" ela disse quase de boca fechada.

— Pois aí está! — tornou Emília. — Tudo errado, até o "a" de certas palavras. O mundo é uma grande trapalhada. Para que, por exemplo, caudinha em Rabicó? Na vaca mocha a cauda tem razão de ser — serve para espantar as moscas. É um espanador. Mas em Rabicó? Para que serve aquele caracolzinho pelado?

— Para enfeite do fim — lembrou a Rã.

— Que fim?

— O fim de Rabicó. Todos os fins têm caudinhas. É o remate. Mamãe diz que é feio comer e deixar o prato limpo, ou beber um cálice de licor sem deixar um bocadinho no fundo. São caudinhas. São os enfeites da boa educação.

Emília estava cada vez mais desconfiada da Rãzinha. Parecia a Alice do País das Maravilhas. Só vinha com disparates. E disse:

— Enfeites são inutilidades. Não quero saber de enfeites nas minhas reformas. Tudo há de ter uma razão científica. Aquela idéia da carta sobre a reforma do Quindim me pareceu maluca. Acho que você quer brincar com a Natureza, menina. Eu quero corrigir a Natureza, quero melhorá-la, entende? Não se trata de nenhuma brincadeira. Negócio sério. Aí está a diferença entre nós. Na última carta você falou em substituir o couro do Quindim por um veludo. Isso é asneira.

— Mas que necessidade tem Quindim dum couro duríssimo, aqui no Picapau Amarelo, onde não há espinhos africanos?