por quatro pernas diferentes — uma de veado, outra de ganso, outra de jacaré, outra de pau. E substituiu aquele couro duríssimo por um revestimento muito bem traçado de palhinha de cadeira. Cauda, botou duas; depois três, depois dez, depois cem; deixou-o com um verdadeiro varal de caudas dando volta inteira em redor do pobre animal.
A reforma do Quindim saiu um tal disparate que nem andar ele podia — uma perna não acompanhava a outra e havia a tremenda atrapalhação de tantas caudas, todas diferentes, umas com borlas na ponta, outras com espinhos de ouriço, outras com campainhas.
Quando Emília foi ver a "obra", não pôde deixar de rir-se. Aquilo era o "bissurdo dos bissurdos". Quindim estava transformado num verdadeiro destampatório.
— Isso não é reformar, Rãzinha! — disse ela. — Isso é escangalhar com uma pobre criatura. Ele já não é rinoceronte nem nenhum bicho possível. Virou quarto de badulaques, baú de mascate. Que judiação! ...
— E você deixa que ele fique assim? — implorou a Rã com medo de que Emília desmanchasse aquela obra-prima do disparate humano.
— Deixo por enquanto — respondeu Emília, — como castigo da preguiça, da velhice e neurastenia que ele anda mostrando duns tempos para cá. No dia do plebiscito sobre o Tamanho [1] Quindim me traiu — recusou-se a votar. A falta desse voto deu vitória ao Tamanho e eu saí lograda. Agora que agüente. Mais tarde vou reformá-lo de novo mas com critério científico...
A Rã ou era mesmo maluca ou estava "sabotando" a obra reformatória da Emília. Todas as idéias que apresentava eram tontas, como aquela da mudança dos morros. A Rã tomou um lápis e traçou um desenho assim:
- ↑ A Chave do Tamanho.