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Página:A Reforma da Natureza (12ª edição).pdf/38

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MONTEIRO LOBATO

— Não acho! — contestou Emília, cruzando os braços. — A obra da Natureza está tão cheia de "bissurdos" como a obra dos homens. A Natureza vive experimentando e errando. Dá cem pés à centopeia e nem um para as minhocas — por que tanta injustiça? Faz um pêssego tão bonito e deixa que as moscas ponham ovos lá dentro e dos ovos saiam bichos que apodrecem a linda carne dos pêssegos — não é uma judiação? Veste os besouros com uma casca grossa demais e deixa as minhocas mais nuas do que a careca do Quindó — isso é erro. Quanto mais observo as coisas, mais acho tudo torto e errado.

Mas sem demora começou a ser desmentida. Um tico-tico entrou na sala e disse com muito desespero para Dona Benta:

— Minha boa senhora, livrai-me do que a Emília fez em mim. Transformou-me em passarinho-ninho, com os ovos às costas, e isso tem sido uma atrapalhação medonha, porque não me deixa voar com desembaraço, e desse modo não consigo escapar aos meus perseguidores.

— Que história de passarinho-ninho é essa? — perguntou Dona Benta, e, quando soube de tudo, abriu a boca. Era demais a ousadia da Emília. Alterar daquele modo a Natureza! Mudar as coisas que levaram milhões de anos para se equilibrarem ... E, agarrando o tico-tico, desfez-lhe o ninho das costas e guardou os três ovos para pô-los no ninho natural que ele fizesse pelo sistema antigo.

Estava ainda a lidar com a pobre ave, quando Pedrinho apareceu de novo, muito assustado.

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