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Página:A Reforma da Natureza (12ª edição).pdf/39

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A REFORMA DA NATUREZA
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— Vovó, o que aconteceu aqui no Sítio parece até um sonho! Encontrei Quindim completamente transformado, com couro de palhinha, a Branca de Neve com os anões pintados no casco, quatro pernas diferentes, cem rabos, e em vez de chifre uma seta de Cupido com um coração na ponta. Imagine! Não dá a menor idéia dum bicho possível!...

A boca de Dona Benta abriu de caber dentro uma laranja.

— E o Rabicó, então? — continuou Pedrinho. — Está com cauda de cachorro lulu, toda frisadinha, e só com dois pés — e pés tartaruga. E com uma ratoeira no focinho e um lenço automático no nariz...

— Sinhá! Sinhá! — voltou tia Nastácia berrando. — O mundo está perdido. Já não entendo mais nada. Fui ver a Mocha e sabe o que encontrei? Um bicho sem propósito, com a cauda no meio do lombo, chifre de saca-rolha com bola de borracha na ponta, e as tetas fora do lugar, com duas torneirinhas, Sinhá, imagine! E o chão anda cheio de moscas sem asa. E um pernilongo cantou no meu ouvido uma música tal e qual aquela que lá na Conferência São "Churche" mandou os músicos tocarem para a senhora ouvir direitinho! Eu não fico mais nesta casa nem um minuto. Isto virou "hospiço" de feiticeiro, Sinhá! Tudo atrapalhado, sem jeito. Ninguém entende nada de nada. Fui encontrar a sua cadeirinha, Sinhá, pregada lá no forro! Subi na escadinha de lavar vidraça, peguei a cadeira pela perna e puxei — e quem disse da cadeira descer? Parece que está pregada no forro com elástico. A gente larga dela e ela sobe outra vez.

— É a força centrípeta — explicou a Rã.

— Centrífuga — corrigiu Emília; e contou a história da supressão do peso.

Tia Nastácia passava a mão num galo que tinha na testa. A negra estava verdadeiramente zonza.

— E ainda tem mais, Sinhá — disse ela. — Imagine que me sentei debaixo da jabuticabeira, e sabe o que aconteceu? De repente uma coisa enorme caiu lá do alto em cima da minha cabeça. Era uma abóbora, Sinhá! Uma abóbora deste tamanho! Fiquei tonta uma porção de tempo, nem sei como não morri. As abóboras andam agora nas jabuticabeiras, Sinhá. Veja que "bissurdo"!