árvores; a Natureza sabe o que faz. Põe as frutas grandes no chão e as pequenas em árvores.
— Isso não! — protestou Emilia. — A maior fruta que eu conheço é a jaca e a jaca é fruta de árvore, ahn!
Dona Benta embatucou.
— Também fiz que as frutas das árvores dessem só nos galhos de baixo — continuou Emília — de modo a facilitar a colheita — e quero ver o que a senhora diz a isso.
Dona Benta declarou que essa reforma só era aceitável do ponto de vista humano, mas explicou que as frutas não existiam para que nós as apanhássemos e comêssemos — existiam para o bem da árvore e apareciam em todos os galhos, tanto os de baixo como os de cima, porque assim ficavam mais bem distribuídas pela árvore inteira, podendo vir em maior quantidade.
— Os galhos de baixo serão só metade dos galhos da árvore toda — disse ela. — Fazendo que as frutas só apareçam nos galhos de baixo, você diminui de metade o número de frutas de uma árvore.
Emília concordou que havia errado e, em companhia da Rãzinha, foi restabelecer o sistema antigo.
— Agora, sim — ia dizendo Emília — agora ela deu uma razão boa, clara, que me convenceu, e por isso vou desmanchar o que fiz. Mas com aquele "Vá!" do começo, a coisa não ia, não! Vá o Hitler. Vá o Mussolini. Comigo é ali na batata da convicção, do argumento científico!
E dessa maneira quase todas as reformas da Emília foram anuladas, mas nenhuma delas por imposição de Dona Benta. A boa senhora argumentava, provava o erro — e então a própria Emília se encarregava de restabelecer o velho sistema. Mas mesmo assim muitas das reformas ficaram, como, por exemplo, a dos livros.
— Sim, Emília, esta idéia do livro comestível me parece ótima, um verdadeiro achado. Mas não para todos os livros. O bom é que haja o livro de papel e ao seu lado o livro comestível. Quem quiser compra um, quem quiser compra outro. As coisas novas jamais substituem inteiramente as coisas velhas. Lembre-se de que em Nova Iorque, a cidade que tem mais automóveis no mundo, nós vimos as carroças que entregam leite de manhã puxadas por cavalos. Aprovo a idéia do Livro-Pão e hei de propor a um industrial meu conhecido que estude o problema e crie a nova indústria. Mas você me vai fazer o favor de deixar meus livros como eram, porque senão...
Nesse momento Pedrinho entrou correndo na sala, muito afobado.