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Página:A Reforma da Natureza (12ª edição).pdf/64

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MONTEIRO LOBATO

absurda que chega a duvidar de mim mesmo. Estarei por acaso sonhando?

— Belisque para ver — disse Emília.

O Dr. Zamenhof beliscou-se. Sim, não era sonho não. Estava acordadíssimo. Mas continuou no ar, sem conseguir pôr em ordem suas idéias.

— Café! gritou Dona Benta para a cozinha. — Para consertar estas situações mentais, nada como os cafés de tia Nastácia.

Veio o café com bolinhos. O barbudo sábio tomou-o e foi assentando as idéias. Minutos depois estava de braço dado ao Visconde, passeando pela sala e absorvido numa profundíssima conversa sobre glândulas.

— Ando interessado em descobrir a verdadeira função da glândula pineal — dizia o Visconde.

— Credo! — esclamou tia Nastácia, que vinha vindo tirar a bandeja do café. — Até assusta a gente, essa "linguage"...

A conversa dos dois sábios foi interrompida por uma gritaria lá fora. Correram todos para a varanda. Vinha vindo um bando de homens em busca do Dr. Zamenhof.

— Que há? — interpelou este de longe.

— Descobrimos a Noventaequatropeia! — berrou o da frente. Está a um quilômetro daqui! ...

O Dr. Zamenhof despediu-se às carreiras e lá se foi, seguido do Visconde e de Pedrinho. Não queria que matassem o monstro. Sua intenção era pegá-lo vivo para pô-lo num jardim zoológico.

CAPÍTULO VII

A CAÇA AO MONSTRO


A NOVENTAEQUATROPEIA estava lá na mesma grota úmida dos caetés de tia Nastácia, sempre parada, olhando. Parece que o gosto dela era parar e olhar. O Dr. Zamenhof e seus homens cercaram-na de longe e examinaram-na com os binóculos.

— Noventa e quatro pernas, sim — observou o sábio; — evidentemente, seis foram arrancadas, porque ainda aparecem os