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A REFORMA DA NATUREZA
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santo Deus! Tudo estranho, tudo incompreensível! Sabugos científicos, rinocerontes camaradas...

Nisso repontou a enorme massa do Quindim, com a Emília a cavalo no chifre. O assombro do sábio e dos seus homens subiu mais dez pontos, e foi um custo para os sossegar. Diversos treparam às árvores próximas, como macacos.

Depois de mil explicações, a calma voltou aos expedicionários e Quindim foi atrelado à ponta do cipó.

— Vamos, Quindim! — ordenou Emília lá do seu posto e o rinoceronte moveu-se pesadamente. O cipó esticou como corda de viola e a Noventaequatropeia, a despeito das suas noventa e quatro pernas coladas ao chão, não teve remédio senão sumir-se no canudo. Assim que a viram lá dentro, os homens correram com as tampas e fecharam as duas extremidades.

Pronto! Graças às idéias de Pedrinho e à lembrança da Emília, o tremendo fenômeno da natureza estava encanudado no enorme jacá de frangos. Tinham agora de construir uma carreta especial, que o levasse dali para o jardim zoológico.

— Bom, — disse o Dr. Zamenhof — vocês agora vão cuidar da carreta enquanto eu vou novamente conferenciar com a proprietária do sítio. E separaram-se.

Evidentemente o que ele estava querendo não era conferência nenhuma, e sim outro cafezinho de tia Nastácia. . .

— Minha senhora — disse o Doutor ao entrar — aceite mil felicitações pelos netos que tem. Graças às sugestões desses meninos, apanhamos o monstro e o encanudamos.

— Netos? — repetiu Dona Benta, sem compreender.

— Sim, — disse o Doutor — aqui o Senhor Pedro e ali a Senhora Emília.

— Ah! — exclamou Dona Benta, rindo-se. Essa não é neta, não, Dr. Zamenhof. Emília é uma boneca que evoluiu para gentinha.

O sábio arregalou os olhos. "Boneca que evoluiu para gente?" Estaria a velha a caçoar com ele?

Percebendo a sua atrapalhação, Dona Benta disse:

— A história é muito complicada, Doutor, não pode ser dita em meia dúzia de palavras. Mas, creia ou não, a coisa é como lhe digo. Netos tenho dois, Pedrinho e Narizinho — embora a Emília, quando me quer agradar, também me chame "vovó". . .