Saltar para o conteúdo

Página:A Relíquia.djvu/429

Wikisource, a biblioteca livre

Estava salvo! Rapidamente, ajoelhei á beira do caixote, cravei o formão na fenda da tampa, alcei o martello em triumpho...

— Theodorico! Filho! berrou a titi, arripiada, como se eu fosse martellar a carne viva do Senhor.

— Não ha receio, titi! Aprendi em Jerusalem, a manejar estas coisinhas de Deus!...

Despregada a táboa fina, alvejou a camada d’algodão. Ergui-a com terna reverencia: e ante os olhos extaticos surgiu o sacratissimo embrulho de papel pardo, com o seu nastrinho vermelho.

— Ai que perfume! Ai! ai, que eu morro! suspirou a titi a esvaír-se de gosto beato, com o branco do olho apparecendo por sobre o negro dos oculos.

Ergui-me, rubro de orgulho:

— É á minha querida titi, só a ella, que compete, pela sua muita virtude, desembrulhar o pacotinho!...

Acordando do seu langor, trémula e pallida, mas com a gravidade d’um pontifice, a titi tomou o embrulho, fez mesura aos santos, collocou-o sobre o altar; devotamente desatou o nó do nastro vermelho; depois, com o cuidado de quem teme magoar um corpo divino, foi desfazendo uma a uma as dobras do papel pardo... Uma brancura