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A cidade e as serras

encontrei todos os soalhos remendados, esfregados a carqueja. As paredes, muito caiadas e núas, refrigeravam como as d’um convento. Um quarto, a que me levaram tres portas escancaradas com franqueza serrana, era certamente o de Jacintho: a roupa pendia de cabides de pau: o leito de ferro, com coberta de fustão, encolhia timidamente a sua rigidez virginal a um canto, entre o muro e a banquinha onde um castiçal de latão resplandecia sobre um volume do D. Quichote; no lavatorio pintado de amarello, imitando bambú, apenas cabia o jarro, a bacia, um naco gordo de sabão; e uma prateleirinha bastava ao esmerado alinho da escova, da thesoura, do pente, do espelhinho de feira, e do frasquinho de agua de alfazema que eu mandára de Guiães. As tres janellas, sem cortinas, contemplavam a belleza da serra, respirando um delicado e macio ar, que se perfumava nas resinas dos pinheiraes, depois nas roseiras da horta. Em frente, no corredor, outro quarto repetia a mesma simplicidade. Certamente a previdencia do meu Principe o destinára ao seu Zé Fernandes. Pendurei logo dentro, no cabide, o meu guarda-pó de lustrina.

Mas na sala immensa, onde tanto philosopháramos considerando as estrellas, Jacintho arranjára um centro de repouso e d’estudo — e