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Página:A cidade e as serras (1912).djvu/120

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A CIDADE E AS SERRAS

— Vim para Montmartre... Tenho aqui um amigo, um homem de génio, que percorreu toda a Índia... Viveu com os Toddas, esteve nos mosteiros de Garma-Khian e de Dashi-Lumbo, e estudou com Gegen-Chutu no retiro santo de Urga... Gegen-Chutu foi a décima-sexta encarnação de Guatama, e era portanto um Boddi-sattva... Trabalhámos, procurámos... Não são visões. Mas factos, experiências bem antigas, que vêm talvez desde os tempos de Cristna...

Através destes nomes, que exalavam um perfume triste de vetustos ritos, arredara a cadeira. E de pé, deixando cair sobre a mesa, distraidamente, para pagar o absinto, moedas de prata e moedas de cobre, murmurava com os olhos descansados em Jacinto, mas perdidos noutra visão:

— Por fim tudo se reduz ao supremo desenvolvimento da Vontade dentro da suprema pureza da Vida. É toda a ciência e força dos grandes mestres Hindus... Mas a pureza absoluta da vida, eis a luta, eis o obstáculo! Não basta mesmo o Deserto, nem o bosque do mais velho templo no alto Tibete... Ainda assim, meu Jacinto, já obtivemos resultados bem estranhos. Sabes as experiências de Tyndall, com as chamas sensitivas... O pobre químico, para demonstrar as vibrações do som, tocou quase às portas da verdade esotérica. Mas quê! homem de ciência, portanto homem de estupidez, ficou aquém, entre as suas placas e suas retortas! Nós fomos além. Verificámos as ondulações da Vontade! Diante de nós, pela expansão da energia do meu companheiro, e em cadência com o seu mandado, uma chama, a três metros, ondulou, rastejou, despediu línguas

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