— Alto lá ! Nos quoque gens sumus et nostrum Virgilium sabemus!
Mas o meu novíssimo amigo, debruçado da janela, batia as palmas — como Catão para chamar os servos, na Roma simples. E gritava:
— Ana Vaqueira ! Um copo de água, bem lavado, da fonte velha!
Pulei, imensamente divertido:
— Oh Jacinto! E as águas carbonatadas? e as fosfatadas? e as esterilizadas? e as sódicas?...
O meu Príncipe atirou os ombros com um desdém soberbo. E aclamou a aparição dum grande copo, todo embaciado pela frescura nevada da água refulgente, que uma bela moça trazia num prato. Eu admirei sobretudo a moça... Que olhos, dum negro tão líquido e sério! No andar, no quebrar da cinta, que harmonia e que graça de Ninfa latina!
E apenas pela porta desaparecera a esplêndida aparição:
— Oh Jacinto, eu daqui a um instante também quero água! E se compete a esta rapariga trazer as coisas, eu, de cinco em cinco minutos, quero uma coisa!... Que olhos, que corpo... Caramba, menino! Eis a poesia, toda viva, da serra...
O meu Príncipe sorria, com sinceridade:
— Não! não nos iludamos, Zé Fernandes, nem façamos Arcádia. É uma bela moça, mas uma bruta... Não há ali mais poesia, nem mais sensibilidade, nem mesmo mais beleza do que numa linda vaca turina. Merece o seu nome de Ana Vaqueira. Trabalha bem, digere bem, concebe bem. Para isso a fez a Natureza, assim sã e rija;