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A CIDADE E AS SERRAS

e ela cumpre. O marido todavia não parece contente, porque a desanca. Também é um belo bruto... Não, meu filho, a serra é maravilhosa e muito grato lhe estou... Mas temos aqui a fêmea em toda a sua animalidade e o macho em todo o seu egoísmo... São porém verdadeiros, genuinamente verdadeiros! E esta verdade, Zé Fernandes, é para mim um repouso.

Lentamente, gozando a frescura, o silêncio, a liberdade do vasto casarão, retrocedemos à sala que Jacinto já denominara a Livraria. E, de repente, ao avistar num canto uma caixa com a tampa meio despregada, quase me engasguei, na furiosa curiosidade que me assaltou:

— E os caixotes? Oh Jacinto?... Toda aquela imensa caixotaria que nós mandámos, abarrotada de Civilização? Soubeste? Apareceram?

O meu Príncipe parou, bateu alegremente na coxa:

— Sublime! Tu ainda te lembras daquele homenzinho, de saco a tiracolo, que nós admirámos tanto pela sua sagacidade, o seu saber geográfico?... Lembras? Apenas falei em Tormes, gritou que conhecia, rabiscou uma nota... Nem era necessário mais! «Oh! Tormes, perfeitamente, muito antigo, muito curioso!» Pois mandou tudo para Alba-de-Tormes, em Espanha! Está tudo em Espanha!

Cocei o queixo, desconsolado:

— Ora, ora... Um homem tão esperto, tão expedito, que fazia tanta honra ao Progresso! Tudo para Espanha!... E mandaste vir?

— Não! Talvez mais tarde... Agora, Zé Fernandes, estou saboreando esta delícia de me erguer

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