engenhoso Ulisses, de carapuço vermelho e o longo remo ao ombro, surpreendia com a sua facúndia a clemência dos Príncipes, ou reclamava presentes devidos ao Hóspede, ou surripiava astutamente algum favor aos Deuses. E Tormes dormia, no esplendor de Junho. Novamente, eu cerrava as pálpebras consoladas, sob a carícia inefável do largo dizer homérico... E meio adormecido, encantado, incessantemente avistava, longe, na divina Hélade, entre o mar muito azul e o céu muito azul, a branca vela, hesitante, procurando Itaca...
Depois da sesta o meu Príncipe de novo se soltava para os campos. E a essa hora, sempre mais activa, voltava com ardor aos «seus planos», a essas culturas de luxo e elegantes oficinas que cobririam a serra de magnificências rurais. Agora andava todo no esplêndido apetite duma horta que ele concebera, imensa horta ajardinada, em que todos os legumes, clássicos ou exóticos, cresceriam, soberbamente, em vistosos talhões, fechados por sebes de rosas, de cravos, de alfazema, de dálias. A água das regas desceria por lindos córregos de louça esmaltada. Nas ruas, a sombra cairia de densas latadas de moscatel, pousando em esteios revestidos de azulejo. E o meu Príncipe desenhara o plano desta espantosa horta, a lápis vermelho, num papel imenso, que o Melchior e o Silvério, consultados, longamente contemplaram, — um coçando risonhamente a nuca, o outro com os braços duramente cruzados, e o sobrolho trágico. Mas este plano, o da queijaria, o da capoeira, e outro, sumptuoso, dum pombal tão povoado que todo o céu de Tormes às tardes se tornaria branco