Alguns anos passaram. Trabalhei, viajei. Melhor fui conhecendo os homens e a realidade das coisas, perdi a idolatria da Forma, não tornei a ler Baudelaire. Marcos Vidigal, que, através da Revolução de Setembro,, trepara da Crônica Musical à Administração Civil, governava a Índia como Secretário-Geral de novo entregue, nesses ócios asiáticos que Lhe fazia o Estado, à História da Música e à concertina: e levado assim esse grato amigo do Tejo para o Mandovi, eu não soubera mais do poeta das LAPIDÁRIAS. Nunca porém se me apagara a lembrança do homem singular. Antes por vezes me sucedia de repente ver, claramente ver, num relevo quase tangível — a face ebúrnea e fresca, os olhos cor de tabaco insistentes e verrumando, o sorriso sinuoso e céptico onde viviam vinte séculos de literatura. Em 1871 percorri o Egito. Uma ocasião, em Mênfis, ou no sitio em que foi Mênfis, navegava nas margens inundadas do Nilo, por entre palmeirais que emergiam da água, e reproduziam sobre um fundo radiante de luar oriental, o recolhimento e a solenidade triste de longas arcarias de claustros.
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