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Página:A escrava Isaura (1875).djvu/118

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— Que pretendes fazer com ella, Isaura? que louco pensamento é o teo?...

— Dê-me essa faca, meo pae; eu não usarei della senão em caso extremo; quando o infame vier lançar-me as mãos para deitar-me esses ferros, farei saltar meo sangue ao rosto vil do algôz.

— Não, minha filha; não serão necessarios taes extremos. Meo coração já adivinhava tudo isto, e já tenho tudo prevenido. O dinheiro, que não servio para alcançar a tua liberdade, vae agora prestar-nos para arrancar-te ás garras desse monstro. Tudo está já disposto, Isaura. Fujamos.

— Sim, meo pae, fujamos; mas como? para onde?

— Para longe daqui, seja para onde fôr; e já, minha filha, emquanto não suspeitão cousa alguma, e não te carregão de ferros.

— Ah! meo pae, tenho bem medo; se nos descobrem, qual será a minha sorte!...

— A empreza é arriscada, não posso negar-te; mas animo, Isaura; é nossa unica taboa de salvação; agarremo-nos a ella com fé, e encommendemo-nos á divina providencia. Os escravos estão na roça; o feitor levou para o cafesal tuas companheiras, teo senhor sahio a cavallo com o André; não ha talvez em toda a casa senão alguma negra lá pelos cantos da cosinha. Aproveitemos a occasião, que parece mesmo nos vir das mãos