Página:A escrava Isaura (1875).djvu/273

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que lhe pesava sobre o coração. Quem de perto a olhasse com attenção veria um leve rubor naquelle rosto, que a dôr e os soffrimentos parecião ter condenado a uma eterna e marmorea palidez; era a aurora da esperança, cujo primeiro e timido arrebol assomava nas faces daquella, cuja existencia naquelle momento ia sepultar-se nas sombras de um lugubre occaso.

— Não esperava pela honra de recebel-o hoje nesta sua casa, — continuou Leoncio recobrando gradualmente o seo sangue frio e seo ar arrogante. — Entretanto ha-de permittir que me felicite a mim e ao senhor por tão opportuna visita. A chegada de Vª. Sª. hoje nesta casa parece um acontecimento auspicioso, e até providencial.

— Sim!?.. muito folgo com isso... mas não terá Vª. Sª. a bondade de dizer por que?..

— Com muito gosto. Saiba que aquella sua protegida, aquella escrava, por quem fez tantos extremos em Pernambuco, vae ser hoje mesmo libertada e casada com um homem de bem. Chegou Vª. Sª. mesmo a ponto de presenciar com os seos proprios olhos a realização dos philantropicos desejos, que tinha a respeito da dita escrava, e eu da minha parte muito folgarei, se Vª. Sª. quizer assistir a esse acto, que ainda mais solemne se tornará com a sua presença.

— E quem a liberta? — perguntou Alvaro sorrindo-se sardonicamente.