Página:A escrava Isaura (1875).djvu/81

Wikisource, a biblioteca livre

estar na roça trabalhando de enxada, ou aqui pregada na roda, desde que amanhece até nove, dez horas da noite. Quer-me parecer, que lá ao menos a gente fica mais á vontade.

— Mais á vontade?!.. que esperança! — exclamou uma terceira — Antes aqui mil vezes! aqui ao menos a gente sempre está livre do maldito feitor.

— Qual, minha gente! — ponderou a velha creoula, — tudo é captiveiro. Quem teve a desgraça de nascer captivo de um máo senhor, dê por aqui, dê por acolá, há-de penar sempre. Captiveiro é má sina; não foi Deos que botou no mundo semelhante cousa, não; foi invenção do diabo. Não vê o que aconteceo co’a pobre Juliana, mãe de Isaura?...

— Por fallar nisso, — atalhou uma das fiandeiras, — o que fica fazendo agora a Isaura?... em quanto sinhá Malvina estava ahi, ella andava de estadão na sala, agora...

— Agora fica fazendo as vezes de sinhá Malvina, — acudio Rosa com seo sorriso maligno e zombeteiro.

— Cala a boca, menina! — bradou com voz severa a velha creoula. — Deixa dessas fallas. Coitada da Isaura! Deos te livre a você de estar na pelle daquella pobresinha! se vocês soubessem, quanto penou a pobre da mãe della! ah! aquelle sinhô velho foi um home judeo mesmo,