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mulher á quem ama, ou porque a obriga á entregar-se a elle proprio, ou, finalmente, porque—á exemplo do velho Catão—a prostituo por dinheiro. * Os negros lastimam e sentem a falta de suas festas, de suas danças, do sua preguiça e da liberdade de entregarem-se aos gostos e hábitos de sua patria.

     Para que um paiz goze de verdadeira liberdade, é preciso que cada homem não esteja submettido senão a leis oriundas da vontade geral dos cidadãos; que ninguem no Estado tenha o poder de se subtrahir ao dominio da lei, nem de violal-a impunemente; e, emfim, que cada cidadão goze de seus direitos, e que força alguma lh‘os possa roubar, sem levantar contra si a força publica O amor de tal liberdade não existe no coração de iodos os homens; e, á vista do modo como procedem, em certos paizes, aquelles que gozam d’ella, não é muito certo que esses mesmos a avaliem pelo seu preço real. Ha, porém, outra especie de liberdade—a de dispôr livremente de sua pessoa, e não depender, para sua alimentação, seus sentimentos e seus gostos, do capricho de um dictador. E a perda d'esta liberdade, não ha quem não a sinta, nem quem deixe de ter horror de semelhante captiveiro.

     Diz-se que ha homens que prefiram a escravidão á liberdade; e eu creio. Houve Francezes, a quem abrira-se a porta da Bastilha, que preferiram permanecer ahi á morrer na miseria e no abandono.

  • V. nóta I no fim do volume.