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Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/192

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lhe pulsava de um modo insólito, e seu espírito se perdia em um chão de ideias singulares e emoções estranhas. Ela, que nas brancas faces conservava sempre inalterável um leve matiz de rosa, sentiu incender-se-lhe o rosto em extraordinário rubor; os olhos, que sempre tão animados despediam com altivez os mais vivos e penetrantes fulgores, sentiram turvados e abateram-se involuntariamente sem ousarem fitar o mancebo com a costumada sobranceria. A lembrança do formoso jovem, que outrora tinha encontrado na praia adormecido à sombra de um rochedo, avivou-se-lhe subitamente no espírito, e as mesmas emoções que então sentira lhe assaltaram o seio alvoroçado. A imagem desse mancebo malgrado seu lhe ficara para sempre gravada na mente como estrela de meiga e fagueira luz no céu escuro de seu tenebroso destino. Em vão procurava expeli-la, ela sempre a acompanhava derramando-lhe na alma um triste e misterioso clarão que a enchia de angústia e inquietação. Desde que vira Ricardo, quebrara-se o seu condão de fada, e desfizera-se todo esse encanto que até ali lhe amparara o seio com o broquel de inexpugnável isenção. O mal-aventurado afeto, que havia consagrado ao esposo de um dia, não pudera apagar-lhe da mente aquela visão de um instante que a tinha fascinado.