Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/193

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Por seu lado também Ricardo jamais pudera se esquecer da virgem donosa e radiante de beleza que, aparecendo-lhe em sonho um momento depois, se convertia em fulgurante visão, cheia de vida e realidade. E era essa visão que agora lhe surgia de novo ante os olhos pelas praias silenciosas daquele retiro encantador.

Era ela, era Regina, que agora lhe aparecia ainda mais formosa do que outrora, porém, mais meiga e carinhosa. Já não vibrava aqueles olhares cintilantes, cheios de altivez e império, que fulminavam todas as esperanças no coração de seus adoradores. As pupilas úmidas nadavam-lhe em suave langor, um tímido sorriso cheio de carícias e promessas adejava-lhe pelos lábios incendidos em voluptuoso rubor. Lia-se-lhe no vivo encarnado das faces, na timidez dos ademanes, no trêmulo e ansioso arfar dos seios empolados, um casto e sedutor enleio, que lhe duplicava os encantos e a revestia de uma formosura irresistível.

Ricardo, todavia, tentou a princípio resistir à tão poderosa sedução; evocou no espírito a memória de seus irmãos, que já não duvidava terem sido sacrificados à sanha daquela ominosa e fatal beleza, e esforçou-se debalde por conservar toda a sua sobranceria e isenção de ânimo em face de tão formidável e tentadora visão. Parou diante dela