Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/21

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uma pobre criança escapada milagrosamente de um terrível naufrágio; pelo menos assim pensou a boa mulher, que apanhou-a na praia, e a recolheu e criou em sua choupana. Mas o povo não quis acreditar um tal naufrágio, e tinha boas razões para isso. Não apareceu indício nem destroço algum de navio perdido em toda a extensão destas costas, e por mais que se indagasse, não houve depois notícia de embarcação alguma, que por aquele tempo pudesse ter soçobrado nestas paragens.

Assim, pois, a origem de Regina andou sempre envolvida em dúvidas e mistérios. A extraordinária formosura da menina, a pasmosa vivacidade de espírito, de que desde criança dava mostras, a voz encantadora, com que sabia entoar as mais bonitas cantigas, e enfim seu gênio trêfego, audaz e ardiloso, como nunca se viu, a fizeram passar entre o povo como filha de uma fada do mar ou de uma sereia, o que vem a ser o mesmo. Os acontecimentos que se seguiram e a vida estranha e singular que levava a menina, cada vez mais confirmaram o povo nesta sua crença.

O noivo, como já disse, era um forasteiro de além-mar, que voltara bastantemente abastado da costa da África, por onde andara em tráfico de escravatura. O navio em que vinha fundeara nestas praias para refrescar e fazer aguada. Desembarcando