Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/212

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com efeito um mancebo gentil, como jamais meus olhos tenham visto…! E que expressão encantadora de bondade e candura apresentava dormindo…! Tinham essa figura os serafins do céu, com que eu às vezes sonhava. Fiquei assombrada crendo ter diante dos olhos alguma visão sobrenatural. Mas por fim notei que sobre aquela fisionomia tão serena e suave pairava como uma sombra angustiosa. Dei mais dois passos para junto dele, e observei-o com mais atenção. Pouco a pouco suas feições foram-se alterando, tremores convulsivos lhe percorriam o corpo, e o peito lhe arquejava ansioso; parecia querer arrancar um grito que se lhe pegava na garganta.

‘“Oh! meu Deus!’, pensei comigo. ‘Será possível que até mesmo aos que dormem seja funesta a minha presença?!’ Ia retirar-me mas, vendo que um terrível pesadelo o afrontava, compadeci-me, cheguei-me a ele e despertei-o. Apenas abriu os olhos e os fitou sobre mim, não sei explicar o que senti. Insólita perturbação apoderou-se de meu espírito, meus olhos se turvaram, e calor estranho afogueou-me as faces. Trocamos algumas palavras, que já não me lembro, e retirei-me aceleradamente, confusa e como que aturdida. Pareceu-me, entretanto, que ele também havia sentido essa mesma singular