Assim falando tomava a menina nos braços, procurava aquecê-la aos seios descarnados, afastava os finos e macios cabelos molhados, que se colavam ao rosto como algas marinhas pegadas a um crustáceo engastado de pérolas e corais; e soprando-lhe nas narinas e na boquinha, que entreabria com os dedos, procurava insinuar-lhe nos pulmões o alento vital.
— Coitadinha! — continuava a boa velha. — Tão mimosa, tão galante…! Se está morta, que golpe para seus pobres pais…! Louvado seja Deus! — exclamou por fim, levantando os olhos ao céu. — Está viva…! E pode escapar. Benza-a, Deus, como é mimosa e bonitinha…! Mas de quem será esta menina, e como veio amanhecer aqui atirada na praia por este modo lastimoso…?! Não é de ninguém que eu conheça e, entretanto, nesta redondeza conheço todo mundo, velhos e crianças. Será a da comadre Joaninha…? Não, essa tem cabelos pretos, e os desta são cor de castanha. A da comadre Ponciana é mais crescida e é morena, e esta é alva como as conchinhas da praia. Também não pode ser a da vizinha Gertrudes, que fez um ano outro dia, e esta já tem todos os dentes… e que lindos dentinhos, meu Deus…! Que pérolas…!
Continuando sempre nestas e outras exclamações, a boa velha apertava ao peito com maternal