Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/34

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carinho a pobre criança asfixiada, e procurava chamá-la à vida como querendo comunicar-lhe o calor de seu peito, o alento de seus pulmões, o sangue de suas veias, ao mesmo tempo que prorrompia em gritos de entusiasmo e admiração, ao passo que a examinava e descobria nela novas graças e perfeições.

— Está visto — continuou ela —, não é de gente daqui. Há de ser de algum navio que deu à costa nesta noite de tanta tormenta. Este mar! Este mar…! Tenho vivido sempre perto dele, e mesmo assim tenho-lhe medo…! Mas Deus, que é de misericórdia, não quis que se perdesse nas ondas este tesouro de inocência e formosura, e enviou-o para mim. E foi o mar, esse mar, que me roubou meu bom marido, que agora teve dó de mim e deu-me uma filha. Sim, foi Deus que me a enviou, ó minha filha.

Dito isso, a boa velha, delirante de júbilo, recolheu-se apressadamente à cabana, levando nos braços o seu precioso achado, e graças a seus socorros e solícitos cuidados, a menina em breve recobrou os sentidos e voltou à vida. Ninguém pode avaliar o íntimo e pleno contentamento que ela sentiu quando viu irem se descerrando languidamente os lindos olhos da menina, e refletirem a luz do céu e da vida. Foi uma interminável explosão de exclamações delirantes de entusiasmo