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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

com que os moços da quinta, na romaria de S. Gonçalo, atiravam descargas em louvor do Santo.

Depois, elle, encafuou o revólver na algibeira, desenterrou do armario do corredor um velho bengalão de cabo de chumbo entrançado, agarrou um apito. E assim precavido, aquecido pelo Verde e pelo Alvaralhão, com os dous creados de caçadeira ao hombro, importantes e tesos, partiu para Villa-Clara, procurar o Snr. Administrador do Concelho. A noite envolvia os campos em socego e frescura. A lua nova, que alimpára o tempo, roçava a crista dos outeiros de Valverde como a roda lustrosa d’um carro de ouro. No silencio os rijos sapatões pregueados dos dous jornaleiros resoavam em cadencia. E Gonçalo adiante, de charuto flammante, gosava aquella marcha, em que de novo um Ramires trilhava os caminhos de Santa Ireneia com homens da sua mercê e solarengos armados.

Ao começo da villa, porém, recolheu discretamente a escolta na taverna da Serena: e elle cortou para o Mercado da Herva, para a Tabacaria do Simões, onde o Gouveia, áquella hora, antes da partida da Assembléa, costumava pousar, comprar uma caixa de phosphoros, considerar pensativamente na vidraça as cautelas da Loteria. Mas n’essa noite o Snr. Administrador faltára ao Simões costumado. Largou então para a Assembléa: e logo em baixo,