se recebesse uma descarga em cheio no peito... corri, e...
A commoção impediu-o de continuar; disfarçou como envergonhado d’aquella fraqueza, beijando a filha outra vez.
Ermelinda percebeu a perturbação do pae e disse-lhe carinhosamente:
— Para que está agora a pensar n’essas coisas que o affligem, meu pae?
— Deixa-me cá, rapariga. Isto ás vezes tambem faz bem. Mas, por isso, quando entro em casa e te vejo, pequena, e te vejo com boas côres e alegre... nem eu sei o que tem mão em mim, que não me ponho a dançar. Ah!... ah!... Ninguem tem uma filha como eu! Olhe que não, sr. Augusto; mal fica a mim dizel-o, mas... Lá por Lisboa e por o Porto ha muita menina galante, isso ha; muita inglezinha loura, bonitas como anjos, mas cabellos assim dourados? — e passava com orgulho os dedos pelos bastos cabellos de Ermelinda — mas uma pelle assim delicada, — e afagava-lhe com as mãos a face, quasi a mêdo — mas olhos assim a metterem-se mesmo pelo coração á gente? — e beijava-lh’os com paixão — isso é que eu ainda não vi, nem tenho de vêr. Como o Senhor concedeu um anjo d’estes a um selvagem como eu, é que não sei... É a imagem da mãe!... Ella tambem era poucochinho de si... miudinha e... Mas não pensemos n’estas coisas. Sim, senhores; eis-me aqui outra vez, e por signal com a minha vida por arranjar e eu posto á taramela. Trago-lhe uma encommenda, sr. Augusto, e muitos recados, muitos.
— Já sei; Angelo escreveu-me.
— Escreveu? Ah, sr. Augusto, que rapaz aquelle! Aquillo é uma perola! Com tres milheiros de demonios do inferno! d’alli ha de sair coisa grande. Eu não queria morrer sem vêr o que saía d’alli. Brinca como uma creança, mas, quando quer, põe-se sério, e fala como homem. E nada de soberbas, nem de