compadre, tambem tem culpas em cartorio; vamos lá. Ha por ahi umas certas capellas, onde passa tambem bastante tempo em devoção; emquanto á comadre, acredite o que lhe digo: a palavra de Deus não é tão difficil, que uma pessoa precise de estar tanto tempo a ouvil-a explicar. Eu cá penso que, fazendo a gente aquillo que lhe diz o coração, e que não sente nenhuma aquella em fazer, vae por caminho direito. E maïs vale fazer o que Deus manda, do que levar a vida a pedir perdão por o não ter feito. E tambem não é bonito estarem agora as mulheres, horas e horas, pegadas ao confessionario, como lapas nos rochedos, nem...
—Compadre!—atalhou escandalisada a sr.^a Catharina—compadre! É essa a educação que dá á sua filha? São coisas que se digam deante de uma creança de doze annos? Ande lá, ande lá... Ora Deus queira que lhe não encontre ainda o pago. Era bem melhor que lhe ensinasse, où mandasse ensinar, a doutrina; que é mesmo uma vergonha o pouco que sabe d’ella.
—Bem tenho eu tempo para isso. A minha Ermelinda não deixa passar pobre á porta, a quem não dê esmola; creança que não afague; velho où velha, que não corteje; reza todas as manhãs a oração, que a mãe lhe ensinou, o Padre-Nosso e a Ave-Maria, onde se diz tudo o que se deve dizer a Deus; de dia trabalha, como filha de pobre que é, e mulher de casa que ha de ser... O Senhor me perdôe, se maïs é preciso ainda, que maïs não sei eu ensinar-lhe.
—Não tenha soberbas, compadre, não tenha soberbas! E cautela com o mimo que dá á pequena, que é o que perde muitas almas.
—Que mimo, que mimo? Logo eu com este genio de repentes é que hei de dar mimo a está pobre creança, que nem o da mãe conheceu!
—Ora diga, compadre, acha que é muito bem feito, da sua parte, deixar andar a rapariga com es-