eu t’os propunha? Ora, se me dás licença, eu explico isso.
—Não quero saber de explicações; veste-te, anda.
—Seja! Infeliz lembrança a d’este passeio. E foi d’aquella tia Victoria, que nem por isso nos quiz acompanhar. Não, que já tem juizo; dorme a estás horas o somno da madrugada, que é uma consolação. Que sorte de invejar!
E a morgadinha, continuando assim a exaggerar o sacrificio d’aquella madrugada e a alludir aos motivos secretos a que attribuia o ardor e heroicidade da prima ante os rigores de dezembro, tudo isto de proposito para a vêr impaciente, principiou a vestir-se.
Christina ficára á janella, espiando os progressos do amanhecer e transmittindo á prima as observações que fazia.
—Olha, eu que digo?... já o Manoel vae abrir o portão... Não ouves os pardaes?... É dia claro já... Havemos de chegar com sol á ermida, o que não tem graça nenhuma... Avia-te, Lena... Has de ser a ultima a estar prompta... Ahi vae já o Luiz com o almoço. É que não chegamos lá senão ao meio dia. Elle ahi vem! Eu bem digo.
—Elle! Quem é esse elle que vem ahi?
—Pois quem ha de ser? Então não é o primo Henrique que nos acompanha?
—É o primo Henrique, é o sr. Augusto e é o Luiz, que tua mãe teimou em mandar com o almoço. Não sabia qual dos très te merecia as honras de um «elle».
—Eu dizia o primo Henrique, que já ahi está no pateo—disse Christina, que n’esta occasião correspondia ao cumprimento, que o recem-chegado lhe fazia de baixo.
—Então, com effeito já chegou?—perguntou a morgadinha, admirada.—Bravo! Nunca o esperei. Ai, Christe, que me parece que elle tambem tem alguma coisa no coração!