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Página:A morgadinha dos canaviais.djvu/168

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Assim foi que, a meio da encosta e em sitio em que se lhes cortava ao lado do caminho, que cautelosamente desciam, uma ribanceira quasi a pique e erriçada de fragas salientes e angulos de rocha, em cujas fendas e sinuosidades apenas os tojos e as giestas e algum pinheiro enfezado tinham conseguido vegetar, uma violenta rajada de vento, desprendendo a mantilha de Magdalena, depois de a revolutear no espaço arremeçou-a ao abysmo.

Ficou suspensa nos espinhos das tojeiras, porém em logar, onde seria difficil o accesso, de qualquer lado que se tentasse.

Magdalena, no momento, não pôde reter um grito, que fez parar com terror Henrique e Augusto que caminhavam adeante. Voltaram-se assustados.

A morgadinha, com a cabeça descoberta, tranças ligeiramente desordenadas, as faces um pouco pallidas, sorria já do seu exaggerado susto.

A rir, explicou o succedido, pedindo perdão pelo sobresalto que involuntariamente causára.

— Descança em paz! — disse ella, olhando para a mantilha; e accrescentou: — Sigamos.

— Mas não será possivel tiral-a d’alli? — perguntou Augusto, examinando o sitio.

— Para quê? Não podemos demorar-nos agora com isso — respondeu Magdalena.

— Eu desço a cortar uma canna lá abaixo aos Moinhos e volto n’um momento — insistiu Augusto, dispondo-se a executar o que dizia.

Henrique notou, sorrindo:

— O alvitre é de homem prudente. Cuidei que os montanhezes não eram de tão bom aviso.

E, animado pelo desejo de humilhar Augusto, por quem se sentia humilhado, e ao mesmo tempo cedendo á influencia que sobre elle exercia a fascinadora figura de Magdalena, Henrique arrojou-se a uma desnecessaria imprudencia.

Sem dar tempo a que o impedissem ou lhe fizessem qualquer reflexão, deixou-se escorregar no despenhadeiro,