Página:A morgadinha dos canaviais.djvu/278

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perderam nas cidades os dias do Senhor a feição typica e interessante, que por muito tempo tiveram; e quem hoje bem os quizer apreciar tem de ir n’um sabbado pernoitar ao campo, para amanhecer no domingo ao som do sino, que chama para a missa matinal.

Dirá então se não parece que até o sol tem outra luz e que as arvores e as plantas se toucaram de flores novas, que guardam de reserva para os dias de festa.

Este particular aspecto do domingo estava-o logo pela manhã sentindo Henrique de Souzellas, encostado á varanda do quarto em que pernoitára, e emquanto esperava que o chamassem para o almoço.

De vez em quando a recordação das scenas nocturnas da vespera desviava-lhe para outra ordem de reflexões o pensamento; acudiam-lhe todos aquelles incidentes á memoria, mas vagos e confusos, como se tivessem sido sonhados; chegava quasi a duvidar da realidade d’elles.

Agora estava experimentando certa curiosidade e tambem receio de saber como seria recebido pela morgadinha, e que posição deveria tomar na presença d’ella.

Formava a este respeito varias conjecturas, sem se fixar em nenhuma.

D’estas cogitações veio por fim arrancal-o o toque da campainha annunciando o almoço.

— Vamos, — disse Henrique — preparemo-nos para o primeiro embate. Apuremos a vista para n’um relance julgar do estado das coisas, e por elle regular o meu plano de tactica.

E depois de uma rapida consulta ao toucador, desceu para a sala do almoço.

Já alli encontrou reunida toda a familia do Mosteiro, e a morgadinha presidindo á mesa e preparando o chá.

Todos saudaram Henrique, e a um tempo se informaram