Pobre creança! Que negros crimes lavariam aquellas lagrimas? Que culpas teria a expiar aquella inconsolavel dor?
O confessionario d’onde ella se afastára, abriu-se, emfim, e ás vistas, que para alli se voltaram, mostrou um padre gordo, córado, de olhos e fronte pequenos, cabellos grisalhos, rompendo-lhe a um dedo das sobrancelhas. O homem parou algum tempo a fitar o auditorio.
Espalhou-se no templo um sussurro particular; um movimento commum animou aquellas cabeças todas, quando este homem appareceu.
Era o missionario.
A sua passagem para a sacristia foi uma passagem verdadeiramente triumphal. Curvaram-se até ao chão as beatas, beijando-lhe a mão ou as borlas da batina, e pedindo-lhe a benção, que elle distribuia com profusão.
Mas a meio caminho da sacristia, para onde se dirigia, surgiu-lhe quasi do chão um estorvo.
Zé P’reira, o desconfortado marido, estava deante d’elle, gesticulando e realisando um triplice e admiravel esforço para firmar as pernas, para abrir os olhos, e para desembaraçar a lingua.
Dizia o homem:
— Ó sr. aquelle... ó sr. padre, ou missionario, ou lá o que é... eu quero-lhe perguntar uma coisa. Deus disse... sim, Deus disse... A religião manda... Quando um homem se casa...
O missionario não esperou pelo fim da inesperada interpellação; com modos rudes e pulso vigoroso arredou de si o atrevido, e bradou, fulo de cólera:
— Então que desafôro é este? Deixam um homem n’este estado vir ter commigo?!
E com maneiras e palavras igualmente asperas impoz silencio ao povo, que rira do desengano do Zé P’reira. Os mordomos acudiram logo para afastarem o Zé P’reira d’alli para fóra. Elle deixou-se ir, limitando-se a dizer mansamente: