O pároco tornou a segurar-lhe as mãos, e perguntou, deveras abismado:
— Pois eu não saí ontem com duas pessoas que vieram chamar-me?... Pois não foi a senhora, tia Salomé, quem me acordou?. . . Não me disse até que era temeridade sair com o tempo que fazia?. . .
— Eu?! Eu, não senhor!. . .
Ângelo levou as mãos à cabeça e exclamou: Ó meu Deus! eu estarei louco?. . .
Salomé abaixou os olhos, dizendo consigo mesma:
— Quanto mais se eu confessasse a verdade!. . .
O padre pôs-se a cismar, passeando ao longo da sala.— Seria um sonho?. . . pensou ele. Ela em verdade não teria morrido?.. . Estará viva?. . .
— Posso trazer a merenda, sr. vigário?. . . perguntou a criada.
E acrescentou para si, vendo que ele não dava resposta:— Coitado, se eu pudesse, dizia-lhe tudo!. . .
E saiu.
— Foi um sonho! . . . não há dúvida. . . Logo eu, de fato, não pequei!. . .
E respirou aliviado, encaminhando-se para a mesa.
— Mas, é estranho!... continuou ele a pensar; nunca sonhei assim!. . . Seria capaz de jurar que não sonhei— que vivi. . . Verdade é que nem tudo aparece claro e lúcido no meu espírito... (