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momento tinha sempre uma ordem a dar e fingia não ver o beijo de despedida que o moço imprimia na fronte cândida da menina.

Agora, minha prima, se quer saber o segredo da cena que lhe acabei de descrever, cena que se repetia todas as tardes, havia um mês, dê-me alguns momentos de atenção, que vou satisfazê-la.

Este moço que designei com o nome de Jorge, e que realmente tinha outro nome, em que decerto há de ter ouvido falar, era o filho de um negociante rico que falecera, deixando-o órfão em tenra idade; seu tutor, velho amigo de seu pai, zelou a sua educação e a sua fortuna, como homem inteligente e honrado que era.

Chegando à maioridade, Jorge tomou conta de seu avultado patrimônio e começou a viver essa vida dos nossos moços ricos, os quais pensam que gastar o dinheiro que seus pais ganharam é uma profissão suficiente para que se dispensem de abraçar qualquer outra.

Temos, infelizmente, muitos exemplos dessas esterilidades a que se condenam homens que, pela sua posição independente, podiam aspirar a um futuro brilhante.

Durante três anos, o moço entregou-se a esse delírio do gozo que se apodera das almas ainda jovens; saciou-se de todos os prazeres, satisfez todas as vaidades.

As mulheres lhe sorriram, os homens o festejaram; teve amantes, luxo, e até essa glória efêmera, auréola passageira que brilha algumas horas para aqueles que pelos seus vícios e pelas suas extravagâncias excitam um momento a curiosidade pública.

Felizmente, como quase sempre sucede, no meio das sensações materiais, a alma se conservara pura; envolta