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O Rio de Janeiro ainda se lembra da triste celebridade que, há dez anos passados, tinha adquirido o lugar onde está hoje construído o hospital da Santa Casa.

Houve um período em que quase todas as manhãs os operários encontravam em algum barranco ou entre os cômoros de pedra e de areia, o cadáver de um homem que acabara de pôr termo à sua existência. Outras vezes ouvia-se um tiro; os serventes corriam e apenas achavam uma pistola ainda fumegante, um corpo inanimado e, sobre ele, alguma carta destinada a um amigo, a um filho, ou a uma esposa.

Amantes infelizes, negociantes desgraçados, pais de família carregados de dívidas, homens ricos caídos na miséria, quase todos aí vinham, trazidos por um ímã irresistível, por uma fascinação diabólica.

As Obras da Misericórdia, como chamavam então este lugar, tinham a mesma reputação que o Arco das Águas Livres de Lisboa e a Ponte Nova de Paris.

Era o templo do suicídio, onde a fragilidade humana sacrificava em holocausto a esse ídolo sangüinário