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— Onde? exclamou Carlos, estremecendo.

— Não a viste entrar na loja do Wallerstein?

— Não; não vi ninguém.

— Pois verás.

Com efeito, uma moça vestida de preto, acompanhada por uma senhora já idosa, havia entrado na loja do Wallerstein.

A velha nada tinha de notável e que a distinguisse de uma outra qualquer velha; era uma boa senhora que fora jovem e bonita e que não sabia o que fazer do tempo que outrora levava a enfeitar-se.

A moça, porém, era um tipo de beleza e de elegância. As linhas do seu rosto tinham uma pureza admirável.

Nos seus olhos negros e brilhantes radiava o espírito da mulher cheio de vivacidade e de malícia. Nos seus lábios mimosos brincava um sorriso divino e fascinador.

Os cabelos castanhos, de reflexos dourados, coroavam sua fronte como um diadema, do qual se escapavam dois anéis, que deslizavam pelo seu colo soberbo.

Trajava um vestido de cetim preto, simples e elegante; não tinha um ornato, nem uma flor, nem outro enfeite, que não fosse dessa cor triste, que ela parecia amar.

Essa extrema simplicidade era o maior realce da sua beleza deslumbrante. Uma jóia, uma flor, um laço de fita, em vez de enfeitá-la, ocultariam uma das mil graças e mil perfeições que a natureza se esmerara em criar nela.

Os dois moços pararam à porta do Wallerstein; enquanto seu amigo olhava a moça com o desplante dos homens do tom, Carlos, através da vidraça, contemplava com um sentimento inexprimível aquela graciosa aparição.