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Página:Alice Pestana (Caiel) - Retalhos de verdade (1908).pdf/35

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Retalhos de Verdade
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peiora passaram dois longos mezes, em que o bom sobrinho persistiu, com tenacidade admiravel, no seu posto de infatigavel enfermeiro. As criadas velhas elogiavam muito o menino, que bem se via ser o que ellas sempre tinham imaginado — um coração de pomba. O director espiritual da boa senhora, frequentador assiduo da casa, é que não fazia o menor echo a estes gabos. E punha seus reparos.

O mal ia avançando. Por fim a tia Amalinha soffreu longas crises lethargicas em que parecia que toda a idea de parentesco se lhe tinha varrido. Mas o Antonio não fraquejava. Esperava tranquillo, com paciencia, com fé.

O seu caso não era um d'estes casos melindrosos. bicudos, em que á viva força se pretende extorquir um testamento. Nada d'isto.

Com os seus velhos habitos de inacção provinciana, a tia Amalinha era completamente incapaz de meditar e realisar um testamento. Mas isso, a elle, que podia importar-lhe? A santa senhora não tinha mais herdeiro que o seu Antoninho, herdeiro necessario que saberia galardoar os antigos serviçaes, sem que fosse compellido por disposições testamentarias. Essa confiança decerto the estava socegando muito os ultimos momentos, a ella.