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ALICE NO PAÍS DO ESPELHO

Alice pensou consigo que era inútil falar. O côro das vozes zangadas nada disse dessa vez, mas pensou também que era melhor não dizer nada porque a linguagem ali valia mil libras por palavra.

— Vou sonhar com mil libras esta noite! pensou Alice impressionada com tanto dinheiro.

Por êsse tempo o Guarda estava de olhos fixos nela, primeiro através dum telescópio, depois através dum microscópio e finalmente através dum binóculo de teatro. Por fim disse: — Você tomou o trem errado, e fechando a janela desapareceu.

— Uma criança pode não saber o seu próprio nome, mas deve saber para onde vai, disse um respeitável senhor que estava sentado defronte dela, vestido de papel branco.

Perto dêsse senhor havia uma cabra, que fechou os olhos e disse com voz fanhosa: — Não é preciso saber ler para adivinhar onde é a bilheteria.

Perto da cabra sentava-se um besouro (era um bem estranho vagão aquêle!), o qual besouro disse por sua vez: — Ela terá que voltar para donde veio ainda que seja como bagagem.

Alice não pôde perceber quem estava sentado atrás do besouro, mas lhe ouviu a voz áspera, dizendo: — Troquem a máquina... Essa criatura não pôde concluir a frase porque alguém a obrigou a deixar o vagão.

— Parece voz de cavalo, pensou Alice.

De mais longe uma voz macia disse: — Ela deve ser despachada como encomenda postal. E outra: Deve ser remetida pelo telégrafo. — E outra: Deve ser posta a puxar o trem. — E assim por diante.